A ministra sul-africana das Relações Internacionais, Naledi Pandor, lançou esta semana um desafio à comunidade internacional que visa o uso da força militar para obrigar Israel a deixar entrar toda a ajuda humanitária que a Faixa de Gaza precisa.
Depois de ter sido a África do Sul a avançar com um processo contra Israel por genocídio no Tribunal de Justiça Internacional (TIJ), é agora também este país africano a dar mais um passo que pode mudar as regras do jogo no conflito do Médio Oriente.
Naledi Pandor disse, em Pretória, após um encontro com o seu homólogo dinamarquês, que a comunidade internacional devia enveredar pelo uso da força para obrigar Telavive a permitir a entrada de toda a ajuda humanitária que os 2,3 milhões de palestinianos no território precisam.
Isto, quando, além das mortes causadas pelos bombardeamentos israelitas, mais de 30 mil, na sua larga maioria crianças e mulheres, começam a morrer às dezenas de forme e doenças oportunistas nas situações de desnutrição e consumo de água imprópria.
A Organização Mundial de Saúde já veio denunciar, pela voz do seu director-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa publicação nas redes sociais, que a falta de alimentos está a afectar severamente milhares de crianças.
Nesta denúncia, o responsável máximo pela OMS diz que as crianças que sobrevivem aos bombardeamentos "podem agora não sobreviver à fome" generalizada em Gaza, onde a ajuda continua a entrar a conta-gotas devido ao afunilamento imposto pelas IDF.
Neste cenário, sobressai ainda no noticiário internacional a falhada tentativa pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU, de fazer entrar 14 camiões com ajuda no norte do território, onde se registam as maiores dificuldades, sendo obrigados a dar meia volta pelos militares israelitas no checkpoint de Wadi.
O PAM lamenta que esta ajuda tenha sido impedida de chegar aos locais onde é conhecida a situação de fome generalizada e de onde começam a sair imagens, através dos jornalistas que conseguem, apesar de mais de 130 terem já sido mortos por Israel, semelhantes às que na década de 1980 saiam de sítios como a Somália, com crianças esfomeadas à beira da morte.
Este cenário é de tal ordem que até os Estados Unidos e o Reino Unido, incondicionais aliados de Israel, estão a fazer saber que está a chegar ao fim da sua paciência para com as restrições israelitas à entrada de ajuda humanitária em Gaza.
A vice-Presidente dos EUA, Kamala Harris, num momento desenquadrado da posição de Washington, exigiu um cessar-fogo total a Israel, levando mesmo, segundo a NBC News a noticiar um mal-estar na Administração Biden.
Desde 07 de Outubro do ano passado, há cerca de cinco meses, quando o Hamas protagonizou um assalto violento ao sul de Israel, deixando um rasto de morte e destruição, 1.200 mortos e 2 mil feridos, que Israel está a bombardear por terra mar e ar a Faixa de Gaza.
Gaza é um território com apenas 365 kms2, 40 kms de comprimento e 10 de largura, entalado entre o Egipto, o Mar Mediterrâneo e Israel, onde vivem 2,3 milhões de pessoas, na maior densidade populacional do mundo - 6.500 pessoas por km2 -, e sem a mínima possibilidade de sobreviver sem ajuda humanitária internacional permanente.
Nestes cinco meses, os israelitas já mataram 30 mil pessoas, deixaram 100 mil feridas, muitas delas deficientes para sempre, sendo que mais de 75% são mulheres e, a maioria, crianças, destruíram mais de 75% dos edifícios, 1,2 milhões de pessoas vivem em tendas e ao ar livre, escasseiam os alimentos, água e medicamentos...
Tudo, para, como o primeiro-ministro do Governo mais radical, politica e religiosamente da história de Israel, Benjamin Netanyhau, anunciou no início desta guerra, conseguir três objectivos: destruir o Hamas para sempre, libertar os reféns e garantir que Gaza nunca mais será uma ameaça para Israel.
Nenhum destes objectivos foi conseguido, apesar da destruição de quase 80% do território, que está reduzido a escombros, porque, como ironizava esta semana o famoso apresentador norte-americano The Daily Show, Jon Stewart, "não é possível destruir uma ideia com bombas".
Stewart disse ainda ser incompreensível que em Israel quem está a tomar estas decisões não perceba que destruir um "país" só garante mais agudo e duradouro ódio, o que é precisamente o contrário da ausência de ameaça hoje e no futuro.