Tudo começou com a reeleição de Nicolás Maduro na Presidência da Venezuela, que a oposição não reconheceu, no passado dia 10, recebendo volumosas críticas da comunidade internacional por causa da duvidosa legitimidade política e democrática que o próprio tem e ainda por causa do caos em que a danificada democracia venezuelana caiu depois de, em Agosto de 2017, o próprio Maduro ter destituído o Parlamento que resultara de eleições, criando uma Assembleia Constituinte que lhe permitiu alterar a Constituição à sua medida.
O primeiro passo que demonstrou existir uma estratégia internacional em curso foi dado na quarta-feira, quando Mike Pence, o Vice-Presidente norte-americano, veio a público falar em nome dos EUA e do Presidente Trump, declarando que Washington reconhece Juan Guaidó, de 35 anos, líder da oposição e do Parlamento destituíd0 por Maduro, como o Presidente interino da Venezuela e manifestando uma apoio claro aos que decidirem protestar nas ruas.
No espaço de poucas horas, a União Europeia, o Canadá e a maior parte dos países que integram o Grupo de Lima, com destaque para o Brasil, a Argentina, Brasil, o Chile, a Colômbia e o Peru, saíram igualmente à "rua" para "exonerar" Maduro da Presidência da Venezuela, as ruas das cidades venezuelanas encheram-se de manifestantes, Guaidó jurou em cima de um palco autoproclamando-se o "novo" Presidente do país e, pelo meio, de novo, centenas de pessoas foram feridas e pelo menos 14 morreram em confrontos com a polícia.
Numa clara postura de desafio e de garante de que está para durar, NIcolás Maduro foi à televisão pública fazer uma declaração onde anunciou o corte de relações com o "imperialismo" de Washington, dando 72 horas aos representantes dos EUA em Caracas para abandonarem o país.
Acusando os EUA de "intervencionismo", Maduro, a partir da sala do palácio Presidencial, com a fotografia de Simão Bolivar, o herói das independências sul-americanas, em fundo, disse que estava a inaugurar uma nova fase onde a Venezuela vai "mostrar que existe dignidade" no país face ao que considerou sem o "início da vitória contra o intervencionismo imperialista dos EUA".
"Nós vamos triunfar, nós vamos sair deste processo vencedores", disse Maduro, quer garante que vai manter o lugar porque "só o povo pode destituir o Presidente" porque "só o povo pode eleger o Presidente".
Guaidó está para ficar
Depois de ontem ter jurado como novo "Presidente" da Venezuela, Juan Guaidó, que surgiu como a cara da oposição a Maduro quando, no início do ano, assumiu a liderança da Assembleia Nacional, o lugar onde se projecta o principal foco de oposição a Maduro e que, apesar de ter sido por este destituída, com a criação da Assembleia Constituinte, se mantém a funcionar, deverá, nas próximas horas, forçar até ao limite a pressão nas ruas.
Isto, porque, segundo a imprensa internacional com jornalistas em Caracas, as Forças Armadas, o baluarte do poder de Maduro, começam a dar sinais de que a sua força começa a esboroar-se, especialmente depois de nos últimos dias um grupo de duas dezenas de militares se ter ressoltado e pedido o apoio popular para destituir o actual regime.
O "golpe" foi imediatamente travado pelas forças leais ao regime, mas as marcas ficaram claramente nas ruas até hoje e prometem manter-se, sendo múltiplos os focos de protestos, que se alargaram a uma dezena de cidades venezuelanas.
A este esforço interno, junta-se a pressão externa que, para além do alargado grupo de países e organizações internacionais, conta com a afirmação mais recente do Presidente Donald Trump, que disse estarem "todas as opções em cima da mesa", o que quer dizer que os EUA não descartam uma intervenção militar.
Até ao momento só o México e Cuba manifestaram estar ao lado de Maduro como Presidente legítimo da Venezuela, mas sabe-se que a Rússia e a China são tradicionais aliados de Caracas.
Isto, apesar de este país estar a atravessar uma crise económica e humanitária sem paralelo, com mais de 3 milhões de venezuelanos a abandonar o país nos últimos anos, com uma inflação que ultrapassa os 1,2 milhões ao ano, onde tudo falta no pais, desde os alimentos aos medicamentos, apesar de se tratar do detentor das maiores reservas mundiais de petróleo e um dos membros de maior influência - que tem vindo a perder de forma significativa - da OPEP.
Futuro incerto para mais um líder oposicionista
Guaidó é um jovem político venezuelano de 35 anos que até há um mês ninguém conhecia no país e agora é claramente o rosto da oposição a Maduro.
Presidente da Assembleia Nacional que o regime de Maduro considera como não existindo após ter sido destituída em 2017 por este, face à sua composição, de maioria contrária ao regime, Guaidó, apesar de sua fraca estrutura física, mostrou todo o músculo da oposição, alicerçado na profunda miséria que o povo venezuelano atravessa, segundo os dados fornecidos pelas organizações internacionais que, apesar das evidências e do descontentamento popular, Maduro nega.
A súbita aparição de Juan Guaidó na cena pública venezuelana, onde os lideres da oposição costumam desaparecer, esquecidos nas prisões do regime, acusados de estarem ao serviço do imperialismo norte-americano e traição à Pátria bolivariana, é uma esperança renovada para os milhões de venezuelanos que já não aguentam a falta de tudo no país, deste os alimentos aos medicamentos nos hospitais, encontrando na emigração forçada a única solução.
Mas de uma coisa Guaidó está consciente, até pelo conhecimento que tem da forma como so seus antecessores - lideres da oposição - acabaram: sem o apoio das Forças Armadas, as suas hipóteses são escassas.
Talvez por isso, o Presidente dos EUA já veio dizer que, para resolver o problema da Venezuela, "todas as opções estão em cima da mesa", o que pode pressupor, mesmo que isso seja considerado pelos analistas como altamente complexo de levar adiante, que está a ser equacionada uma intervenção militar externa.
Mas isso só seria possível com o apoio do Brasil, por causa da geografia, e o Governo de Jair Bolsonaro já veio garantir que Brasília não integrará qualquer iniciativa com essa natureza.