Ao longo dos anos, fomos sujeitos a determinadas situações que nos permitiram continuar a sorrir mesmo em tempos de crise. Umas piadas sobre a desgraça permitem digerir bem situações tristes. Com o advento das redes sociais, a imaginação espicaçada pelo quotidiano resulta em posts e memes que visam quem quer tapar o sol com a peneira. Uma pitada de humor com mensagens sublimes.

É interessante olhar para o passado, para perceber o que mudou e o que ainda se mantém com a mesma identidade e intensidade. Há quem ainda se recorde das festas que duravam até ao raiar do sol, por conta do recolher obrigatório. Mesmo sem um banquete incessante, a música e a conversa eram suficientes para manter o pessoal acordado e animado. Agora, sem o recolher obrigatório, mas com recomendações sobre o dever cívico de recolhimento domiciliar, continuamos acordados, porém por outros motivos que não a música.

Alguns dos nossos provérbios mais típicos emprestados da língua portuguesa ou metamorfoseados das línguas nacionais estão associados aos banquetes com pitéus variados. São provérbios que não precisam de estudos universitários e elaborados manuais de instruções para perceber o significado. Convém recordar que os provérbios podem ter múltiplas interpretações. Um desses provérbios afirma sem margem para dúvidas que «o cabrito come onde está amarrado», pressupondo que há um cabrito gordito assim como comida farta à sua volta. Um verdadeiro buffet de oportunidades para o cabrito e seus descendentes.

"O apressado come cru" é também comum para aqueles que querem «comer» sozinhos e de forma rápida, mas, embora tenha a sua dose de verdade, aqui na banda muitos foram banqueteando sem se preocupar com o estado do cozimento dos alimentos. Talvez agora possam ter dificuldades em digerir os alimentos, porém, na altura do banquete, estava tudo muito apetitoso.

Quando se junta a fome com a vontade de comer, parece que a máxima «onde comem dois comem três» pode, igualmente, ter significado diferente. Pode querer dizer que há sempre espaço para todos os interessados na festança, que não parece ser o caso ou que esses «todos» são apenas aqueles mais chegados que partilham o mesmo tipo de apetite. Tal como se constata que com «barriga cheia, companhia desfeita», há mostras de que os banquetes começam a ter prazo de validade. A barriga cheia dos banquetes deverá agora dar lugar ao jejum voluntário ou coercivo consoante adequada dieta.