O deslumbramento de quem não quer ver os sinais da mudança pode resultar em comportamentos irracionais e atitudes extremas que não se coadunam com o espírito democrático e inclusão social que deveriam nortear os caminhos do País. É cada vez mais evidente que estamos, cada um com a sua quota-parte, a construir um país de contrastes que são cada vez mais acentuados.

Um país onde, quando parece que estão a ser dados passos concretos para assegurar os direitos, liberdades e garantias dos seus cidadãos devidamente consagrados na nossa Constituição, somos lembrados que há dois pesos e duas medidas.

Um país onde, quando começamos a vislumbrar uma democracia mais participativa e inclusiva que reconheça o importante papel da sociedade civil na construção da Nação e na criação de pontes, há sinais de instrumentalização de pseudolíderes associativos e discursos musculados.

Um país onde, quando se sentiam acções no sentido de se corrigir o que realmente está mal, torto, comprometido e branqueado, há uma sensação de que a pretensão de correcção está, constantemente, a ser substituída por correctivos na pele do cidadão que clama pelos seus direitos.

Um país onde, quando são reconhecidos os chamados direitos de "terceira geração" que pretendem garantir o direito ao ambiente e à qualidade de vida, a prática parece mostrar uma clara exploração insustentável dos recursos naturais que beneficiam alguns em detrimento de todos.

Um país onde, quando a liberdade de expressão e de imprensa aos poucos foi ganhando o seu espaço, o aviltamento da dignidade humana ganha proporções alarmantes.

Quiçá num futuro o deslumbramento seja sinal de encantamento e fascínio, mas, para que tal aconteça, teremos de despir as amarras e mordaças de um passado recente.