BRICS é um bloco de países com economias emergentes, criado em 2009, ainda sem a África do Sul, que aderiu em 2010, sendo que todos eles integram o denominado G20, bloco das grandes economias globais, e a sua criação teve na génese, entre outros objectivos, a reforma das instituições financeiras e a procura de soluções para melhorar a economia global.
A Cimeira da África do Sul tem como tema a "Colaboração para o Crescimento Inclusivo e Prosperidade Partilhada na 4.ª Revolução Industrial", e conta com os líderes de seis países africanos: João Lourenço, Filipe Nyusi (Moçambique), Hage Geingob (Namíbia), Ali Bongo Ondimba (Gabão), Yoweri Museveni (Uganda) e Paul Kagame (Ruanda).
Este encontro tem como apelo suplementar a abertura da discussão aos países africanos, incluindo, para além dos citados, outros que integram a SADC, onde o tema da Cimeira - inclusão no desenvolvimento e partilha da prosperidade - encaixa na perfeição.
Joanesburgo vai ainda acolher os Presidentes da Argentina, Mauricio Marci, e da Turquia Recep Erdogan, no âmbito do denominado BRICS-Plus, que é uma iniciativa chinesa anunciada na 9ª Cimeira, em Xiamen, que pretende abrir o grupo a outros países, por forma a alargar a sua abrangência geográfica e potencial de impacto.
E é nesse contexto que Cyril Ramaphosa, Presidente sul-africano, endereçou convites a outros Chefes de Estado ou de Governo para participarem no encontro de Joanesburgo, como, de resto, a China fez o ano passado, com convites, entre outros, ao Egipto, na altura justificada porque este país africano é uma espécie de ponte entre África e a Ásia.
Sobre a 10ª Cimeira que hoje arranca, aministra das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Lindiwe Sisulu, sublinhou isso mesmo ao notar, nas declarações aos jornalistas, que que esta evolução e a abrangência da discussão conferem ao momento um carácter "histórico".
Todavia, o conceito de BRICS-Plus não extingue a exclusividade dos BRICS, que deverão concluir o encontro na África do Sul com a "Declaração de Joanesburgo", consistindo esta numa espécie de mapa de trabalho, ou roteiro, das acções programadas pelo grupo até à próxima Cimeira.
Para Angola, este encontro de Joanesburgo reveste-se de uma importância estratégica, visto que entre os fundadores estão alguns dos mais importantes parceiros económicos do país como a China, o Brasil ou mesmo a África do Sul, e por causa do momento que o país atravessa, onde a captação de investimento externo é essencial para desencravar a sua débil economia, que desde 2014 atravessa uma profunda crise devido à quebra do valor do petróleo e da fraca diversificação do aparelho produtivo.
A esse respeito, lembre-se que o Presidente chinês, Xi Jingping, antecedeu o encontro de Joanesburgo com um périplo por alguns países africanos, incluindo o Senegal e o Ruanda, tendo deixado indicações claras de vontade de investir em novos acordos comerciais e em projectos de grande envergadura, como foi em Kigali, com valores de centenas de milhões de dólares.
A escolha destes três países - Senegal, Ruanda e África do Sul - para despejar milhões em novos projectos não surge por acaso e, como a esmagadora maioria no continente africano, estão abertos e dispostos a mostrar o tapete vermelho ao investimento chinês.
Como explicou Cheng Cheng, investigador no Instituto de Estudos Económicos da Universidade de Renmin, citado pelo South China Morning Post, a China olhou para o mapa e percebeu, quando procurava gerar e oferecer influência, que o Senegal tem actualmente a liderança do NEPAD, a nova parceria para o desenvolvimento africano, o Ruanda detém a liderança da União Africana, e a África do Sul é, de longe, a mais viçosa economia africana, cuja influência alastra por toda a África Austral e onde tem lugar a Cimeira deste ano dos BRICS.
Só a título de exemplo, na África do Sul, foi anunciado que Pequim deverá investir mais de 14 mil milhões de dólares nos próximos anos, aumentando de forma robusta a influência chinesa em África.
E é neste contexto que João Lourenço poderá mover influências para que Angola surja igualmente no mapa das estratégias de investimento dos países dos BRICS, onde, para além da China, estão ainda a Índia, que não esconde a sua vontade de expansão das parcerias económicas co África, ou o Brasil, cuja tradição de investir em África tem em Angola um dos principais focos.