Para Marcolino Moco, a data apontada pelo Chefe de Estado demonstra que a intenção de abandono não é verdadeira. "Se temos eleições em 2017 e ainda está [na agenda] do Comité Central, segundo informações dos media, um ponto em que se vai falar da candidatura do cidadão José Eduardo dos Santos, como é que se explica isso?", questiona o antigo primeiro-ministro.
"A situação [do país] não é boa e normalmente é nestas situações que são feitas estas declarações, provavelmente para baixar a tensão", defende o ex-governante, taxativo em manifestar a sua descrença. "Não acredito. Tanto porque já aconteceu no passado e sobretudo pela própria articulação da declaração", diz Marcolino Moco.
Em declarações à Lusa após o anúncio de José Eduardo dos Santos de que se afastará da vida política em 2018, ao fim de 39 anos no poder, o hoje advogado e crítico do poder em Luanda, considera que "o problema não é a saída do José Eduardo dos Santos, é o regime que construiu".
"A mim importa-me saber se nós, angolanos, somos capazes de superar este regime cheio de injustiças, algumas maiores do que aquelas que o colonialismo efectivou, ou se continuaremos assim, com quem quer que seja [no poder]", salienta.
Para Moco, que foi também o primeiro secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a solução para Angola é "a sociedade civil juntar-se aos partidos políticos sérios da oposição e apresentar uma alternativa de um país que não dependa só de uma pessoa".
Referiu-se em particular a partidos como a UNITA, a CASA-CE ou o Bloco Democrático, e "inclusive pessoas dentro do MPLA, que cada vez mais se têm oposto a este sistema inaceitável a todos os títulos".
Mas foi mais longe: "Gostaria que o próprio Presidente, em vez de fazer estas declarações espectaculares, contribuísse para, antes da sua saída, realmente fazermos esta transição para um país que deslize normalmente".