Durante a Presidência de José Eduardo dos Santos, a Sonangol - desde Junho do ano passado liderada pela sua primogénita Isabel dos Santos - "nunca foi um contrapoder", mas sim "uma arma" nas mãos do Chefe de Estado, analisa o politólogo Ricardo Soares de Oliveira.
Agora com João Lourenço na Presidência, o especialista, citado pela agência Lusa, nota que existe o risco de, aos olhos do público angolano e dos observadores internacionais, surgir "a percepção de que existem dois poderes em Angola: a companhia nacional petrolífera e a Presidência" da República.
"Do ponto de vista da relação pessoal entre João Lourenço e Isabel dos Santos - especulo - haverá uma química complexa a gerir", reforça Soares de Oliveira, intervindo no colóquio "Angola 2017: A hegemonia do MPLA à prova das urnas", realizado ontem em Paris, França, no Centre de Recherches Internationales (CERI) de Sciences Po.
Os desafios à liderança do novo Chefe de Estado colocados pela família dos Santos são também destacados por Didier Péclard, professor do Global Studies Institute da Universidade de Genebra e outro dos participantes no debate do CERI.
Apesar de reconhecer que, à luz da Constituição, João Lourenço "tem muito poder nas mãos", Didier Péclard - autor de "Les incertitudes de la nation en Angola. Aux racines sociales de l'Unita" (As incertezas da nação em Angola. Por dentro das origens sociais da Unita") - defende que o novo Chefe de Estado "terá de impor-se como Presidente" e "ver quem são realmente os seus aliados".
Neste processo para "encontrar o seu lugar", o docente lembra que o também número dois do MPLA terá de lidar com os "tentáculos" de José Eduardo dos Santos".
"É claro que o clã Dos Santos, o clã biológico e político, está muito bem posicionado para continuar a controlar uma boa parte do poder no país", assinala, insistindo contudo na ideia de que João Lourenço tem uma palavra a dizer.
"Saber agora se ele poderá ou vai querer utilizar os poderes que tem ou se terá uma posição para o fazer, é uma questão ainda aberta".