Como o NJOnline lembrou na quarta-feira, o imbróglio criado com o falhanço do envio para o espaço do Angosat-1, a primeira tentativa de fazer de Angola um dos poucos países com presença em órbita, em Dezembro de 2017, também saído da indústria espacial russa, e que custou mais de 300 milhões de dólares, levou o fabricante, a RSC Energia, a assumir a construção de uma segunda unidade a custo zero para Angola, estando previsto o seu lançamento para 2020/21.
Agora, na conferência de imprensa que o Presidente da República deu ontem na capital russa, ficou claro que par o Governo angolano, a questão espacial faz parte do topo da agenda da comitiva de João Lourenço e do próprio, tendo este afirmado que com ele está na Rússia o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação para se inteirar de todo o processo junto das autoridades russas porque "é um dos assuntos principais que a parte angolana vai querer saber".
E aproveitou ainda para informar sobre aquilo que Angola sabe e com o que conta no âmbito deste processo de reposição do satélite.
"Por ser uma questão importante, não aguardamos pela vinda à Rússia para obter informação sobre esta matéria. O satélite de reposição está a ser construído de forma satisfatória e, enquanto não for entregue, Angola dispõe de um espaço num outro satélite russo", disse o Presidente da República.
Sobre o reforço da cooperação com a Rússia, citado pela Lusa, o Presidente angolano avançou que dos nove acordos que estavam previstos assinar, apenas sete estão em condições de se proceder à sua assinatura.
"São acordos que cobrem várias áreas da cooperação dos nossos dois países, Angola e a Rússia", disse.
João Lourenço defendeu que "existe uma identidade de pontos de vista [entre os dois países] sobre um conjunto de matérias, sobretudo política internacional, e não só".
"Esta é uma situação que dura há décadas, não há vacilação, não há alteração nas nossas posições, sobre questões que consideramos fundamentais nas relações entre os Estados", reforçou.
Questionado sobre as razões para a condecoração do seu homólogo russo, Vladimir Putin, com a Ordem Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, João Lourenço respondeu que a razão principal "senão mesmo a única" é a necessidade de "agradecer ao povo russo todo o apoio que ao longo de décadas prestou e continua a prestar ao povo angolano".
"Desde muito cedo, mesmo antes de Angola ser um país, e pensamos que, se alguém merece receber este reconhecimento, a medalha Agostinho Neto, sem sombra de dúvidas que os primeiros dos primeiros deve ser o povo russo", garantiu.
A primeira visita oficial à Rússia do chefe de Estado angolano, que se faz acompanhar também pelos ministros das Finanças, das Relações Exteriores e dos Recursos Minerais e Petróleo, termina sexta-feira.
No dia de ontem, João Lourenço discursou no parlamento russo e procedeu também à abertura do fórum económico com empresários dos dois países.
Recorde-se que um dos pontos que João Lourenço optou por destacar numa entrevista à agência de notícias russa, TASS, foi a sua pretensão de conseguir convencer as autoridades russas das vantagens para os dois países de instalar em Angola fábricas de armamento e material militar russos, como o NJOnline noticiou a partir do trabalho da TASS.
Trunfos para atrair capital russo
Entretanto, sobre o discurso de João Lourenço na abertura do fórum económico que reuniu em Moscovo cerca de três centenas de empresários dos dois países, os enviados da Angop à Rússia escreveram que o Presidente da República garantiu que o país "tem vindo a melhorar o ambiente de negócios (...), através do combate à corrupção e impunidade" e ainda com nova legislação para acomodar melhor o Investimento Privado e da Concorrência, assim como a nova política cambial, que têm estado a contribuir para a redução dos entraves ao investimento.
No quadro da diversificação da economia, o Chefe de Estado angolano falou da necessidade de se revigorar o sector privado, para tornar a economia nacional mais aberta e competitiva.
Disse ser nessa perspectiva que o país espera transformar o potencial económico em riqueza real, aumentando a oferta de bens e serviços, o leque de produtos de exportação e a oferta de postos de trabalho.
Para se alcançar esse objectivo, o Presidente João Lourenço considerou fundamental haver uma aposta, não apenas no investimento privado estrangeiro, mas também em tecnologia de ponta e "know-how" na agricultura, florestas, pecuária, pescas, energia, águas, construção, transportes, telecomunicações, turismo, indústria transformadora e banca.
Segundo o estadista angolano, é do interesse do país contar com o investimento privado russo na indústria farmacêutica, produção de tractores, alfaias e outros instrumentos agrícolas.
O investimento privado russo, prosseguiu o Presidente, também será bem-vindo à indústria de fertilizantes, sementes, indústria do ferro, do aço, à exploração de ouro, cobre e de outros metais raros.
Privatização de empresas públicas
Na sua alocução, perante cerca de 300 empresários russos e alguns angolanos, João Lourenço afirmou que Angola tem preparado um pacote de empresas públicas a privatizar no todo ou em parte, incluindo algumas do sectores petrolífero, bancário e de seguros, de fazendas agrícolas e de importantes indústrias.
"Preparem-se para concorrer à privatização dessas empresas tão logo sejam anunciados os termos e condições dos concursos", convidou, realçando que existe uma nova legislação para a indústria diamantífera.
Salientou tratar-se de uma legislação que coloca fim ao que considerou "quase monopólio existente até há pouco tempo", e cria incentivos aos investidores na produção dos diamantes brutos e no segmento de lapidação dentro do país.
João Lourenço disse conhecer a capacidade de investimento dos empresários e grupos empresariais russos, daí que apelou a esse segmento da economia a incluir na esfera dos seus interesses e prioridades as potencialidades existentes no mercado angolano.