Com as eleições gerais marcadas para 23 de Dezembro, e com a pressão internacional a apertar, como o demonstra a exigência da ONU e da União Africana para que esclareça as suas intenções, Joseph Kabila decidiu ficar em Kinshasa e não viajar para Angola, onde se esperava uma palavra decisiva sobre o seu futuro político.
Recorde-se que Bruno Tshibala, o primeiro-ministro do Governo de transição que iniciou funções no início de 2017, após a falhada realização das eleições, que deveriam ter tido lugar em Dezembro de 2016, como previa o calendário constitucional, e nas quais Kabila já não poderia participar por razões legais, tinha dito que o Presidente iria clarificar tudo na visita a Angola, após um encontro com o seu homólogo angolano.
Após o anúncio, no fim-de-semana, do encontro no Lobito, como a Presidência congolesa fez passar para a imprensa local, foi a parte angolana, através de fontes citadas na imprensa, que fez saber do cancelamento do encontro.
Este cancelamento, cujas razões oficiais se desconhecem, surge numa altura em que cresce em Kinshasa o perigo de um recrudescer da crise com Kabila a evitar falar sobre as suas intenções no último discurso que proferiu no Parlamento, na quinta-feira, e no qual a oposição local, a sociedade civil congolesa e a comunidade internacional, esperavam uma indicação clara do que pensa fazer o ainda Chefe de Estado da RDC.
As eleições deveriam ter tido lugar em Dezembro de 2016 mas foram adiadas através de expedientes usados por Kabila, dando lugar, num contexto de extrema violência, com centenas de mortos em manifestações, a um acordo, denominado de São Silvestre, onde ficou definido um novo calendário eleitoral, com eleições previstas para Dezembro de 2017.
Mais uma vez, Kabila, novamente em contexto de violentas manifestações, adiou a ida às urnas para finais de 2018, a 23 de Dezembro, mas não clarificou, ainda, se é ou não candidato, permitindo a saída para a imprensa várias versões, ao mesmo tempo que o seu partido, o PPDR, dava início a uma campanha com o seu nome como candidato.
Em vez de clarificar, no discurso de quinta-feira, o seu futuro, Kabila optou por atacar os "inimigos" da democracia que querem "destruir o Congo e a sua democracia".
Rosto de Kabila candidato está na rua
O seu Partido do Povo para a Reconstrução e Democracia (PPRD) organizou, nos últimos meses, uma campanha publicitária com o rosto de Kabila anunciando-o como o único candidato possível (ver notícias relacionadas em baixo), ao mesmo tempo que o seu ministro da Comunicação, Lambert Mende, tenha vindo a público dizer que o Presidente não contornará em momento algum os ditames constitucionais.
E o primeiro-ministro congolês, Bruno Tshibala, em Junho último, disse em Nova Iorque, como o NJOnline noticiou, que Joseph Kabila estaria em breve em Luanda para um encontro com João Lourenço, onde deixaria claro a sua posição e decisão sobre o seu futuro político, sublinhando que todas as dúvidas seriam diluídas nesse momento.
Momento esse que ocorre entre as sérias dúvidas levantadas, por um lado, pelas campanhas da Maioria Presidencial e do PPRD, partido que fundou, que o apontam como candidato, mesmo que para isso tenham de forçar uma candidatura inconstitucional, e os seus ministros, que, pelo outro lado, têm procurado diminuir a pressão.
Alias, depois de Tshibala, o primeiro-ministro que "chefia" o governo de transição criado em finais de 2016 para gerir o país até à realização de eleições, sucessivamente adiadas por Kabila, poderá ter definido o calendário da estabilidade na RDC quando apontou a visita de Kabila a Angola como o momento chave do esclarecimento cabal das suas intenções.