Esta confirmação da Ómicron em Angola dá corpo às preocupações manifestadas pelo Presidente da República, João Lourenço, na mensagem aos angolanos na sexta-feira, onde este faz um vigoroso apelo à vacinação como única forma de o País conseguir consolidar a recuperação de dois anos de pandemia e crise pandémica.
Os resultados que chegaram do Instituto Ricardo Jorge, em Portugal, não são propriamente uma surpresa porque estando esta variante presente em largas dezenas de países em todo o mundo, a sua chegada a Angola era mais que provável, mas sublinha a importância de cumprir as medidas de contenção da infecção.
Os dados que chegaram de Portugal não confirmam, todavia, apenas que o País já tem esta variante a circular, demonstram que a Ómicron pode já ser predominante, visto que das 17 amostras enviadas para Lisboa, 16 são da nova estirpe.
"Temos a referência de que estes casos foram detectados em Luanda", disse Lutucuta, acrescentando que se tratam de amostras recolhidas em pessoas que estiveram na África do Sul e no Reino Unido, sendo de salientar que das 16 amostras positivas para a Ómicron, oito não tinham registo de deslocações ao estrangeiro.
Com este cenário, admitiu a governante, fica consolidada a possibilidade que já estava a ser considerada de que o número elevado de casos nos últimos dias são resultado da dispersão desta variante em Luanda e, provavelmente, noutras províncias.
"Mas temos também ainda muitos casos com outras estirpes que são mais letais que a Ómicron como a Delta", alertou.
Ómicron, a estirpe "boazinha"?
Apesar de a Ómicron estar por detrás da crescente vaga de novos casos em Angola, existe um lado menos mau desta constatação, que é o facto de serem cada vez mais as evidências de que se trata de uma estirpe menos letal, logo menos causadora de internamentos e situações de doença grave.
Os estudos sobre o que distingue a nova variante do Sars CoV-3 das anteriores, como a Delta, que até aqui dominavam o mundo, acumulam-se e sublinhando que se trata de uma estirpe com maior facilidade de dispersão mas menor severidade. Mas há agora um dado, posto em evidência no Reino Unido, que faz desta evolução do novo coronavírus, possivelmente, o passo mais importante, a seguir à descoberta das vacinas, deste que a pandemia começou.
E se a variante Ómicron do Sars CoV-2 for, afinal, uma boa notícia? E se se concluir que quanto mais depressa esta evolução do novo coronavírus tomar conta do mundo, substituindo as anteriores estirpes, melhor? A resposta a estas perguntas só será positiva se se confirmar, como parece ser uma séria possibilidade, que a Ómicron está a ocupar o território global que era da variante Delta até aqui, expulsando-a, porque é mais rápida na sua transmissibilidade, mas, como é muito menos agressiva para os pacientes infectados, o número de internamentos desce de forma significativa, os casos graves encolhem e a mortalidade desde igualmente de forma significativa.
Para já, como está a ser divulgado nas últimas horas pelo departamento de Saúde Pública da Escócia, mesmo que se trate de informação preliminar retirada de um estudo realizado assim que a Ómicron começou a gerar preocupações, depois de descoberta pelos cientistas sul-africanos, pode ser uma boa notícia.
Com os autores do estudo a sublinharem que se trata de uma mera indicação que carece de subsequentes confirmações, o que é certo é que os media de todo o mundo estão a enfatizar a possibilidade de a Ómicron ser uma espécie de ajuda inesperada para os serviços de saúde nacionais em todo o mundo pela sua capacidade de ocupar o espaço da variante Delta, mais agressiva e letal, mostrando-se mais benigna, com menos internamentos, menos mortes associadas, ao mesmo tempo que mostra menor resistência do que se pensava às vacinas existentes.
Isto surge quando em Angola o Governo e a Comissão de luta contra a Covid-19 acabam de anunciar novas medidas fortemente restritivas à mobilidade social, como o Novo Jornal noticiou aqui.
O estudo agora divulgado, sendo importante sublinhar que ainda não foi posto à prova pela comunidade científica, o que sucede com a sua publicação oficial num jornal da área, mostra que as pessoas que foram infectadas em Novembro e Dezembro foram dois terços menos susceptíveis de serem internadas em comparação com a variante Delta, mostrando que os sintomas a ela associados são menos graves.
Para já, esta redução da severidade da infecção só mostra estar relativamente sustentada no caso de pessoas que tenham recebido a vacinação completa.
Na primeira declaração pública sobre este estudo e as suas preliminares conclusões, Jim McMenaminm director do departamento de Saúde Pública da Escócia, admitiu que se trata de "evidentes boas notícias" mas apontou como fundamental que, apesar de tudo, a Ómicron não deve ser vista nem encarada como se não fosse grave, porque é apenas menos severa que as suas anteriores representações do Sars CoV-2, porque, entre outras razões, esta variante, sendo mais transmissível, pode chegar a mais pessoas e, apesar de menos severa, acaba por ter um potencial de maior impacto social.
As questões que permanecem em cima da mesa sobre esta variante é que só com estudos suplementares se poderá concluir da sua completa realidade enquanto agente infeccioso, porque é preciso avaliar quantos dos pacientes que integraram o trabalho de campo era vacinados, se já estiveram infectados, qual a importância da idade dos doentes...
Uma nota salientada pelos autores do estudo é que a Ómicron parece ser mais eficiente a infectar pessoas que já tiveram a infecção pelas outras variantes, como a Delta, o que está a gerar curiosidade e trabalho laboratorial para determinar o porquê dessa constatação.
Apesar das "boas notícias", sendo que no Reino Unido os internamentos são, pelo menos, 45% menos que na Delta e na África do Sul, segundo um estudo do Instituto Nacional de Saúde sul-africano, essa diminuição chega aos 60%, o que se pode dever à idade média menor em África que na Europa, os autores do estudo chamam a atenção para a necessidade de não ceder nos cuidados, especialmente nesta época de Natal, onde são normais os ajuntamentos familiares.
Mas... cuidado!
Entretanto, os dados que estão a ser recolhidos na África do Sul, e que já integram trabalhos mais abrangentes publicados na Europa e nos EUA, apontam claramente para que a Ómicron, a par de uma mais célere transmissibilidade, gerando um pico de contaminações bastante mais rápido que a Delta, sucede que a sua diluição na comunidade e posterior desaparecimento é igualmente, segundo esses dados sul-africanos, bastante mais acelerado.
Com Angola a poder ser comparada com a África do Sul no que diz respeito à idade média da sua população, perto dos 17 anos no caso angolano, e sendo já claro que esse factor é relevante para o impacto da infecção na comunidade, a Ómicron pode, como o sustentam os estudos realizados até agora, ser, afinal, uma boa notícia neste Natal e final de ano.
Mas é igualmente a ter em conta que a OMS considerou á esta variante como preocupante e esta agência da ONU mostra mais resistência a surgir em público a admitir que a Ómicron parece menos grave do que inicialmente sugeria ser devido à sua acelerada transmissibilidade.
Há, no que diz respeito à Angola, a possibilidade de ser já esta variante a responsável pelo facto de o País ter chegado pela primeira vez aos quatro dígitos no número de casos, tendo nas últimas 24 horas (dados de quinta-feira ao final do dia) atingido os 1.163 casos positivos.
Apesar da elevada contagiosidade, os óbitos mantiveram-se baixos, tendo sido registados dois.
Angola tem até ao momento registados perto de 69 mil casos casos e 1.750 mortos.
Estão vacinados 11,1 milhões de pessoas, 7,2 milhões de primeiras doses e 3,5 milhões de com vacinação completa.
As autoridades nacionais continuam a mostrar preocupação devido à baixa taxa de vacinação no País.