"O país está bem preparado para beneficiar da recuperação que já está a acontecer do preço do petróleo, e que provavelmente acelerará com o desconfinamento mundial", após o pico da pandemia em vários países, afirmam os académicos do CEDESA, numa análise sobre os efeitos no setor petrolífero de Angola da quebra abrupta do preço do petróleo, no contexto da covid-19.
O grupo de académicos sublinha que o preço do crude está a sofrer pressões negativas, não apenas por causa da queda da procura, em virtude da covid-19, mas também por causa da "aparente tendência secular para diminuir o consumo de petróleo substituindo-o por fontes alternativas" de energia.
Por isso, "o abalo do petróleo na economia angolana subsiste desde 2014" e é um problema em relação ao qual o Governo de Angola, desde 2018, "tem tomado variadas medidas que se centram em duas estratégias: modernização e abertura do sector petrolífero e promoção da diversificação da economia".
Em relação ao primeiro aspeto, os analistas destacam, entre outros passos dados pelo executivo do Presidente angolano, João Lourenço, a criação da agência reguladora, a privatização de subsidiárias secundárias da petrolífera estatal, Sonangol, e a assinatura de acordos com várias empresas estrangeiras para aumentar o investimento.
Grandes companhias, como a Total, Exxon, Chevron, BP, Eni, "planeavam operar mais navios de perfuração em Angola do que em qualquer lugar do continente [africano] para explorar novas descobertas", mas a covid-19 fez cair o preço do petróleo e "as companhias estrangeiras pararam a sua actividade em Angola".
Apesar disto, consideram que "a situação tenderá a estabilizar num patamar superior. (...) e haverá uma tendência de subida" do preço do barril, "desde que não se reiniciem as 'guerras' com a Rússia ou Arábia Saudita".
"A isto acresce que o valor baixo do petróleo será um incentivo ao seu uso numa fase de recuperação económica em que as preocupações com energias limpas, mas mais caras, será, no curto prazo, substituída pela necessidade de colocar as empresas a trabalhar e as pessoas com emprego", defendem.
Mesmo que na Europa persistam as preocupações com a emergência climática, "é difícil vislumbrar que os grandes motores da economia mundial, como os Estados Unidos, a China e a Índia, não prefiram uma fonte de energia barata que rapidamente coloque as fábricas a mexer", reforça a análise do CEDESA.
Segundo o grupo de académicos, Angola já se começou a antecipar e "na semana de 25-29 de maio, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) disponibilizou um pacote de dados para exploração petrolífera das bacias terrestres do baixo Congo e do Kwanza, para empresas nacionais e internacionais".
Num comunicado colocado no dia 28 de maio, no seu site oficial, a ANPG, na qualidade de concessionária nacional e detentora dos direitos mineiros para a prospeção, pesquisa, avaliação, desenvolvimento e produção de hidrocarbonetos líquidos e gasosos em todo o território angolano, "informa todas as empresas que está disponível o Pacote de Dados referente aos blocos para a exploração petrolífera nas Bacias Terrestres do Baixo Congo (CON1, CON5 e CON6) e do Kwanza (KON5, KON6, KON8, KON9, KON17 e KON20)".
Assim, as entidades que pretendam consultar "os dados das bacias supracitadas e outras disponíveis, bem como participar num Data Show Room a realizar pela concessionária nacional, deverão manifestar o seu interesse" através do correio electrónico, acrescenta a nota colocada no site.
A ANPG informava ainda que, de acordo com o cronograma de actividades do processo de Licitação 2020, "estavam criadas todas as condições para que até ao final do mês de Maio fosse feita a divulgação do anúncio de intenção de lançamento do concurso público", nos termos de um decreto presidencial de 02 de Abril.
No entanto, devido aos constrangimentos conjunturais, causados pela pandemia da covid-19, a data poderia "sofrer pequenos ajustamentos".
A mesma entidade realçava que, apesar da conjuntura adversa, "mantém-se válida a necessidade de dinamizar e dar continuidade às operações petrolíferas no país, com destaque para a actividade de exploração".
A CEDESA é uma entidade internacional dedicada ao estudo e investigação de temas políticos e económicos da África Austral, em especial de Angola, que nasceu de uma iniciativa de vários académicos e peritos que integravam a Angola Research Network (ARN).