Por detrás deste comportamento da matéria-prima da qual a economia angolana ainda depende em mais de 90% no global das suas exportações e quase 40% do seu Produto Interno Bruto (PIB), está a extensão do programa de cortes na produção pela OPEP+, organização que agrega os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia à frente de um grupo de não-alinhados constituído por 11 países produtores, e o aumento importante das importações da China.

Se por um lado, o prolongamento para finais de Julho dos cortes de 9,7 milhões de barris por dia (mbpd) pela OPEP+, que inicialmente estava previstos apenas para Maio e Junho, veio dar um impulso na pate que corresponde à oferta, do lado da procura, os sinais vindos das grandes economias são igualmente positivos, porque a China, a 2ª maior economia mundial e o nº 1 entre os importadores de crude, anunciou um importante crescimento das suas importações.

Com a China a regressar de forma vigorosa à normalidade no que respeita ao consumo de crude, os mercados analisam a situação no sentido de que também as economias para onde o gigante asiático exporta a sua produção industrial - na base do aumento do consumo de petróleo - estão em sentido ascendente no que diz respeito ao regresso à normalidade depois de os efeitos mais nefastos da crise económica gerada pela pandemia da Covid-19 se estarem a diluir.

Os valores registados hoje no Brent de Londres e o WTI de Nova Iorque não eram vistos desde 06 de Março, o que representa uma subida relevante, especialmente para as economias petrodependentes, como a angolana, que, recorde-se, obrigou o Executivo de João Lourenço a apostar na revisão do OGE 2020 de forma a adequar o valor de referência do barril a esta nova realidade, passando para 35 USD quando, inicialmente, era de 55 dólares por barril.

Na abertura de hoje, o Brent chegou a marcar o barril nos 43,41 USD e o WTI encostou mesmo aos 40,45 USD, o que ode igualmente ser lido de outra forma: em Londres o barril está hoje a valer o dobro daquilo que valia em Março, quando bateu no fundo devido à crise pandémica, enquanto em Nova Iorque a referência é mais drástica porque em Abril o barril ali vendido esteve a valer 40 USD negativos, um feito jamais visto desde que há indústria petrolífera.

Esta recuperação do valor da matéria-prima tem ainda como "combustível" o progressivo aliviar das medidas restritivas impostas em todo o mundo para conter a expansão da Covid-19, sendo disso os exemplos mais evidentes o que se passa nos EUA, onde o Presidente Trump, apesar dos números trágicos - é o país com mais casos e mortes em todo o mundo - já veio garantir que a pandemia estava efectivamente ultrapassada, e na Europa, onde quase todos os países já começaram a chegar à derradeiras fases do desconfinamento.