O Presidente dos EUA, que está a pouco mais de cinco meses das eleições presidenciais nas quais vai tentar um segundo mandato, marcadas para o início de Novembro, e com a parte final do actual mandato ensombrada pela crise económica no rasto da Covid-19, em busca de uma linha de fuga para esta pressão interna, tem virado as baterias para a China, primeiro com a acusação de responsabilidade no alastramento da pandemia e agora com a situação de novo a ferver no antigo território sob administração do Reino Unido.
E, com o aumento do potencial de conflito económico entre as duas maiores potências mundiais - que ainda não saíram da guerra comercial dos últimos dois anos -, desde logo os dois maiores consumidores de crude planetários, sendo que a China é mesmo o maior importador, os mercados, que vinham até aqui numa recuperação significativa das perdas infligidas pela pandemia nos primeiros meses do ano, estão agora a mostrar forte receio de que novas sanções dos EUA ao gigante asiático possam servir de travão a essa ascensão.
Por causa do anúncio da nova lei de segurança nacional que Pequim quer impor a Hong Kong - nos acordos de devolução do território do Reio Unido à China, a autonomia e as liberdades estão garantidas até 2047 -, as relações Pequim/Washington estão em fase de deterioração e isso tem sempre consequências, tanto na confiança no resto das economias como nos mercados petrolíferos, como o demonstra a nova tormenta em curso, tanto no Brent, de Londres, onde as exportações angolanas têm a sua âncora, como no WTI, em Nova Iorque.
Embora os valores das perdas não sejam elevados, o facto de esta nova ameaça de crise entre China e EUA ter travado um período de recuperação no valor do barril assume especial relevância, mesmo que a perda de 1,05%, no Brent, pwerto das 10:45 de hoje, quarta-feira, para os 35,80, e a perda de 0,65%, no WTI, para os 34,15, ambos sobre contratos de Julho, normalmente não sejam de modo a gerar qualquer tipo de pânico.
Mas estas perdas não acontecem apenas devido ao novo foco de tensão em Hong Kong, com novos confrontos nas ruas de uma das mais importantes praças financeiras do mundo, também da Europa chegam notícias preocupantes, com Christine Lagarde, líder do Banco Central Europeu a antecipar um encolhimento da economia da Zona Euro entre 8% e 12% devido à crise pandémica, o que deixa em aberto a ocorrência do cenário mais adverso admitido pelos analistas.
E também porque a OPEP+, que agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de não-alinhados liderado pela Rússia, tem agendada uma reunião para o início de Junho, onde vai analisar e definir o que fazer depois de terminar o acordo de supressão de 10 milhões de barris por dia (mbpd), no fim de Junho.
Vai manter estes cortes ou alterar o plano face à recuperação ocorrida nas últimas semanas? OU esta nova potencial crise com epicentro em Hong Kong vai exigir acrescentar barris ao actual plano de cortes e prolongar a sua extensão no tempo?
Para já, os sinais que chegam da Arábia Saudita e da Rússia, os dois gigantes da OPEP+, segundo os sites especializados, é que a recuperação, bem como o descofinamento social nas grandes economias, estão, para já, a admitir um aligeiramento nos cortes, permitindo isso ganhos aos países exportadores, quase todos ensombrados por severas crises económicas e sociais provocadas pela pandemia da Covid-19.
O que os analistas dão como normal é que os produtores terão dificuldade em travar o aumento de barris extraídos perante uma crescente procura pela matéria-prima num mundo em claro aligeiramento ou mesmo supressão total das medidas aplicadas para conter a pandemia, como os estados de emergência ou de calamidade.
E ainda, como recorda a Agência Internacional de Energia, com o facto de que esta ano o investimento no sector extractivo vá cair este ano, devido à crise, mais de 400 mil milhões de dólares, o que impõe como risco uma eventual perda na produção que suprima o excesso que actualmente está a baralhar as contas nos mercados.