Isso mesmo o sublinham os dados provenientes da China, a segunda maior economia do mundo, que iniciou o mês de Junho em rápido crescimento no consumo energético, chegando mesmo aos 90% do consumo de petróleo em comparação com o período pré-crise gerada pela pandemia da Covid-19.
Mas não só. Também a OPEP+, a organização que agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de não-alinhados liderados pela Rússia, estão a considerar aproveitar a reunião que dever ter lugar quinta-feira, 04, por videoconferência, para anunciar uma extensão do acordo de cortes na produção assinado em Abril - que estabele uma diminuição de 9,7 milhões de barris por dia (mbpd) - para vigorar durante os meses de Maio e Junho, provavelmente até Setembro, embora este calendário ainda não esteja definido.
Segundo fontes da organização citadas pelas agências, tanto a Arábia Saudita como a Rússia, estão a dar sinais de que não querem repetir o episódio de Abril quando, dando mostras de desentendimentos públicos, pressionaram o valor da matéria-prima da qual dependem as suas economias para valores na linhados 20 USD por barril.
Barril que estava hoje a valer em Londres, no Brent, mercado de referência para as exportações angolanas, perto das 09:30, 40,20 USD, enquanto do outro lado do Atlântico, em Nova Iorque, o WTI (contratos de Julho), valia, à mesma hora, 37,59, uma subida igualmente substancial de 2,12%.
Para justificar este bom comportamento do sector petrolífero, na perspectiva dos países exportadores, os analistas ouvidos hoje pelos sites especializados e pelas agências, colocam em primeiro plano a recuperação do consumo de crude na China, mostrando resultados evidentes do desconfinamento na maior parte do seu território - apesar de nalgumas províncias se mantenham restrições parciais ou mesmo totais - e da recuperação das economias um pouco por todo o mundo - da Europa à América, de África à Oceânia, as restrições começam a ser levantadas de forma significativa - o que permite ao gigante asiático voltar a olhar para o sector exportador com olhar renovado depois de três meses trágicos.
E este é um cenário que marca este período porque a China é o maior importador de crude e o segundo maior consumidor do mundo, logo a seguir aos EUA.
A par desta realidade, a progressiva e sólida recuperação das economias mundiais, o petróleo tem ainda por detrás, a empurrar em sentido ascendente, o aparente entendimento entre os gigantes da exportação de petróleo mundiais, Rússia e Arábia Saudita, sobre o que é preciso fazer para perder este momento e a oportunidade de retirar os mercados petrolíferos do pântano em que a crise económica mundial gerada pela pandemia da Covid-19 os colocou, chegando, recorde-se, a levar o barril para baixo dos 20 USD em Londres e em Nova Iorque o buraco chegou aos 40 USD negativos, num episódio histórico e único em mais de um século desta indústria.
Para Isso, Moscovo e Riade, segundo estão a anunciar hoje as agências, deverão mostrar esse entendimento no encontro que vai ter lugar, por via digital, na quinta-feira, 04 - a data ainda não está totalmente definida - por iniciativa do Presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, e actual líder rotativo da OPEP, propondo a antecipação de um encontro semelhante que estava para ter lugar nos dias 09 e 10 deste mês.
Esta antecipação da reunião emerge como fundamental por causa dos sinais de reabertura que estão a chegar das maiores economias mundiais, da China aos EUA, da Índia à Alemanha, do Brasil à Austrália, da França ao Canadá, que estão a aligeirar ou mesmo anular as medidas restritivas aplicadas entre Janeiro e Fevereiro para estancar a progressão da pandemia do novo coronavírus que surgiu na China em Dezembro do ano passado.
O que os analistas esperam é que o equilíbrio nos mercados ocorra entre Agosto e Setembro, tendo em conta que, apesar das boas novas para os membros da OPEP+, existe um fantasma sempre presente que os pode vir a assustar, e muito, como resultado do seu próprio sucesso: à medida que os preços por barril crescem, cresce o apetite da indústria do fracking norte-americano para voltar a abrir, depois de ter sido empurrada para a suspensão da produção devido aos baixos preços e ao seu elevado breakeven.
Como pano de fundo para este cenário estão as perdas de consumo de 30 milhões de barris por dia (mbpd) com a crise pandémica, passando o mundo a consumir apenas 70 mbpd dos 100 mbpd que consumia em Novembro de 2019, a perda de 70% do valor do barril, que passou, entre Janeiro e Abril, para a casa dos 20 USD.
O buraco de 30 mbpd foi parcialmente tapado com o corte de quase 10 mbpd pela OPEP+ - 9,7 mbpd -, estando os restantes 20 mbpd dependentes da recuperação do consumo planetário, especialmente na China, EUA, Índia e Europa.