Há muito que se fala que as fontes alternativas ao petróleo, seja na indústria, seja nos veículos, vão acabar por destronar o crude como combustível do mundo, o que ainda não sucedeu porque, dizem os especialistas, as alternativas não conseguem o mesmo tipo de poder impulsionador, como as baterias eléctricas são disso exemplo, mas esse cenário pode estar à beira da esquina para atormentar os países que dependem das exportações de petróleo, como Angola é um dos melhores exemplos.
Antes de chegar à questão do hidrogénio como ameaça ao crude enquanto combustível do mundo, hoje, os mercados de referência, seja o Brent, em Londres, que determina o valor médio das ramas nacionais, seja o WTI, de Nova Iorque, que desenha o deve e o haver do petróleo nos EUA, começaram a semana com pessimismo, no seguimento, alias, da semana passada, onde a ameaça era não só os novos casos do novo coronavírus mas também o excesso de stocks nos EUA, mostrando menos vigor na maior economia planetária.
Hoje, perto das 10:10, o Brent, nos contratos para Agosto, estava a perder face ao fecho de sexta-feira, 1,11%, para os 38,32, claramente abaixo da barreira psicológica dos 40 USD por barril, onde chegou a estar confortavelmente no início deste mês, enquanto o WTI, nas vendas de Julho, estava ligeiramente acima dos 35,5 USD por barril, desvitalizando cerca de 2% face ao fechar de portas da última sessão.
E o que está a martelar o valor da matéria-prima é o novo coronavírus que, depois de ter destroçado a indústria petrolífera como não se via em décadas, quiçá mesmo desde sempre, desde que foi descoberto na China em Dezembro de 2019 e se transformou em pandemia em poucas semanas, tendo depois começado a retroceder já em meados de Maio, é que, afinal, o tal inimigo invisível está de volta e, aparentemente, em força.
Por exemplo, em Angola, as exportações de petróleo sofreram uma quebra de quase 50% em Maio face ao mês anterior, segundo dados fornecidos pelo Executivo, passando de 432 mil milhões Akz para 225 mil milhões, o que permite constatar um forte declínio da actividade petrolífera nacional em resultado da crise global e do subsequente declínio do consumo de crude.
Em barris, estes números equivalem a um quera nas exportações para 41 mbpd quando em Abril estas estavam ligeiramente acima dos 44,5 mbpd.
Como se pode ler hoje nas agência internacionais e nos sites especializados, as quedas expressivas nos mercados são uma consequência directa do ressurgimento de novas infecções na China e um pouco por todo o mundo, desde logo na China, Japão, Europa e Estados Unidos, onde os desconfinamentos estão mais avançados, sendo disso um bom exemplo a capital chinesa, Pequim, que voltou, nas últimas horas, a criar cercas sanitárias em pelo menos 10 bairros desta metrópole com mais de 20 milhões de habitantes.
A par disso, nos EUA, apesar de o Presidente Donald Trump não parar de anunciar medidas de aligeiramento das restrições, o número de casos em estado sempre a aumentar, incluindo largas centenas de mortos diariamente.
Em África, onde este problema esteve sempre aquém do que se passava no resto do mundo, também começam a surgir receios de que se esteja, como admite aOMS, a aproximar uma fase de forte aceleração da pandemia.
E estes novos focos da Covid-19 estão, como recorda a Reuters, a criar um renovado sentimento pessimista nos investidores que sabem por experiência recente que se este receio se mantiver, isso vai afectar com estrondo a recuperação do consumo de petróleo mundial - na semana passada o valor médio do barril caiu quase 10% - até porque o mesmo está a suceder nos mercados bolsistas de todo o mundo, com quedas acentuadas pela mesma razão.
Os efeitos desta realidade já estão visíveis nos dados da economia chinesa, a segunda maior do mundo, a primeira em importação de crude, e onde estes solavancos se notam mais depressa, que, se por um mado, manteve entre Abril e Maio um crescimento evidente, os números referentes a Maio, agora conhecidos, mostram um severo declínio no crescimento no vigor da sua indústria exportadora.
Para analisar estes novos dados, avançam as agências, a OPEP+ (OPEP+Rússia) vai reunir o seu painel de experts em monitorização dos mercados na próxima quinta-feira, onde, em cima da mesa, vai estar o comportamento do seu plano de cortes de 9,7 milhões de barris por dia (mbpd), prolongado para finais de Julho.
Este plano de cortes foi inicialmente pensado para ser aplicado em cima de uma perspectiva de crescimento económico que levaria, em tese, a um aumento do consumo mundial, o suficiente para suprir o "gap" entre as perdas para a pandemia, que foi de 30 mbpd.
Hidrogénio, o "vilão" amigo do ambiente
A indústria petrolífera, da qual a economia angolana ainda depende de forma impressiva, sendo responsável por mais de 90% das suas exportações e 35 a 40% do seu PIB, não tem apenas na Covid-19 a grande ameaça, o hidrogénio, a, desde há décadas, prometida alternativa "limpa" à combustão de crude, pode ter conseguido agora sair em definitivo do limbo para se impor de vez.
Há muitos anos que o hidrogénio, um dos elementos mais abundantes da Terra, é utilizado como fonte de energia, sendo quase um mito, alimentado por descobertas magnificas, nem todas reais, de carros e até barcos movidos a ... água, sem custos e por tempo indeterminado, embora nunca se tenha conseguido impor, apesar de anunciado como... milagre energético.
Por detrás desta realidade estão os custos avultados da tecnologia necessária para fazer do hidrogénio uma fonte viável de energia, e, por outro, como tem sido denunciado em vários media, o interesse das grandes multinacionais petrolíferas a sobrepor-se.
Apesar das vantagens do hidrogénio, as baterias eléctricas estão claramente a ganhar a corrida face à urgência de substituir os motores de combustão interna, apesar de o hidrogénio já estar a ganhar terreno em número de estações de fornecimento.
Por exemplo, na California, segundo o site OilPrice.com, tem hoje quase 30 mil postos de abastecimento de electricidade enquanto existem apenas 40 postos de carregamento para o hidrogénio.
Uma das explicações para esta realidade é que os carros eléctricos são uma ameaça menor à indústria petrolífera porque uma parte da electricidade a que se movem é produzida em centrais que funcionam a derivados do petróleo, enquanto com o hidrogénio a realidade é totalmente distinta.
Isto, até agora, porque a realidade mostra estar quase a rebelar-se contra a indústria petrolífera, com os especialistas cada vez a apostar que o hidrogénio tem tudo para se impor, desde logo o preço, seja ele ambiental, seja económico, cuja tecnologia tende a ser cada vez mais acessível.
A prova desse início de uma nova era para esta energia alternativa é que os dados mostram que em dezenas de países, e em crescendo, nomeadamente nas grandes economias, estão a ser investidos centenas de milhões de dólares no denominado "hidrogénio verde" como forma de ajudar a mitigar os efeitos dos gases de estufa com origem na queima de hidrocarbonetos sobre o planeta e as alterações climáticas que o estão a devastar.
Esta fase é já igualmente chada "economia do hidrogénio" e passa pelas avultadas somas que requer para que se imponha de vez sobre a "economia do petróleo", que, a prazo, muito curto, está condenada devido ao seu impacto no ambiente.
E os grandes investidores nesta energia limpa são as indústrias petrolíferas e automóvel, porque estão a olhar para o futuro e querem continuar a fazer parte dele.
Tal como os países do Médio Oriente, ricos em petróleo, estão na linha da frente do investimento em energias alternativas ao petróleo, como também a Rússia está a investir, apesar das vastas quantidades de gás natural e petróleo, da Austrália, cujo carvão no subsolo não tem fim, entre muitos outros, porque começa a impor-se a consciência de que não existe futuro sem esta mudança de paradigma económico.
Neste momento da evolução tecnológica, o problema do hidrogénio é que a sua utilização passa por ir busca-lo à água - divisão eletrolítica -, ao gás natural ou a outros produtos, e exige o recurso a altas quantidades de energia para converter estes elementos em hidrogénio estável e verde, o que, explicam os especialistas, ainda vai exigir muito investimento em novas tecnologias.
Apesar de todos os avanços, este elemento ainda é visto como uma alternativa não totalmente liberta de uma relativamente pesada pegada de carbono.