A OPEP+, organização ad hoc que agrega os Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e 10 não-alinhados liderados pela Rússia, criada em 2017 para contrariar as perdas no sector, tem em curso, desde 01 de Maio, mais um plano de cortes que está a fazer sumir dos mercados 9,7 milhões de barris por dia (mbpd) mas que, ao que tudo indica, esta medida vai ser já a 01 de Agosto, alterada para que o "cartel" reforçado com a Rússia possa diminuir a intensidade dos cortes para 7,7 mbpd.
Isto, se a reunião que o Comité Ministerial de Monitorização dos Mercados da OPEP (JMMC, na sigla em inglês) ou comité técnico, como também é conhecido, inicia na terça-feira, via teleconferência, para a avaliação da situação global, optar pelo que tem vindo a ser admitido pelas agências e sites especializados, que é recuar 2 mbpd no actual plano de cortes, passando de 9,7 mbpd para 7,7 mbpd.
Essa é, pelo menos, a proposta que aparenta reunir maior consenso, especialmente entre, a Arábia Saudita e a Rússia, os dois gigantes mundiais da produção/exportação de crude e que, de facto, lideram esta organização, cujos desentendimentos têm sido responsáveis por algumas das mais desastrosas decisões para o sector petrolífero global, como aquele em Março, sobre os cortes à produção, que levou os sauditas a ameaçar e cumprir com a inundação do mercado com crude barato, uma das principais razões para o descalabro dos mercados em contexto pandémico.
No entanto, naquele que pode ser um momento extraordinário para Angola, visto que tem sido um dos membros da OPEP mais resilientes no cumprimento da sua quota nos cortes em vigor, este amento de 2 mbpd na produção a partir de 01 de Agosto, poderá reduzir o impacto no enxugamento da produção nacional que está em curso.
Isto é especialmente importante agora que o barril está claramente acima dos 40 USD e igualmente acima, cerca de 7 USD, do valor de referência utilizado pelo Executivo para a revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) 2020, coincidindo com uma das mais graves crises económicas que o País está a atravessar, no acumulado da pandemia da Covid-19 e da diminuição do valor da matéria-prima nos mercados internacionais.
Esta redução no volume dos cortes, se se vier a confirmar na reunião que terá lugar entre terça e quarta-feira, primeiro apenas entre membros da OPEP e, depois, no segundo dia, agregando todos os 24 membros da OPEP+, tem, no entanto, um senão, que é o aumento no número de casos da pandemia do novo coronavírus em todo o mundo.
Isto está a acontecer com especial incidência nas grandes economias, desde logo nos EUA, onde estão a ser batidos recordes diários de novos casos e mortes associados à pandemia - o Presidente Trump surgiu agora, pela primeira vez, com uma máscara no rosto em público - e na China, ou mesmo na Europa, onde se começam a insurgir os defensores de novos confinamentos para conter aquilo que alguns já chamam da segunda vaga da Covid-19.
Se este ressurgimento da pandemia não for controlado de forma eficaz nas próximas semanas, temem os especialistas, com o aproximar do Inverno no hemisfério Norte, a pandemia poderá ganhar um novo e reforçado fôlego, deitando a perder todos os esforços que estão em curso para a retoma da actividade económica global depois de um primeiro impacto, a partir de Janeiro deste ano, que só tem comparação com o crash global de 1929, que começou nos Estados Unidos, quer em números do desemprego, quer em perdas nos mercados bolsistas, de valores e petrolíferos.
Com este ímpeto positivo, e com a crise global a entrar num aparente fade out, a Agência Internacional de Energia (AIE) acaba de anunciar uma reformulação ao seu Outlook para 2020, com um acrescento de 400 mil barris por dia, tudo graças à visível retoma, apesar dos perigos que se escondem na esquina do advir breve.
Um desses perigos é claramente aquilo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) chama de notícias apressadas sobre o fim da pandemia, o que é contrariado fortemente por todos os números, como o demonstram os medidores globais, entre estes o da Universidade John Hopkins, onde o número de casos está próximo dos 13 milhões - 12.910.357 - e os mortos já somam 569.128, com um ritmo de crescimento que deixam claro que a pandemia não está, pelo contrário, a retroceder.
E é este contexto que os peritos do JMMC da OPEP têm de levar em linha de conta quando na terça-feira analisarem os prós e os contras de um aumento da produção de 2 mbpd já a 01 de Agosto, bem como outros, menos evidentes mas igualmente importantes, como a retoma da produção da indústria alternativa do fracking, ou petróleo de xisto, nos EUA, que, por causa do seu elevado breakeven, foi uma das vítimas de primeira linha da crise gerada pela pandemia e o consequente rombo no valor do crude.
Os analistas estão, no entanto, globalmente de acordo que a OPEP+ teve um desempenho positivo na forma como atacou o problema, reagindo rapidamente à crise, cortando a produção, embora sublinhem que um sinal como aquele que poderá ser dado esta semana - a decisão de aligeiramento nos cortes de 9,7 mbpd para 7,7 mbpd - possa ser uma faca de dois gumes, visto que no horizonte se acumulam nuvens negras carregadas com aquilo que pode ser uma chuva intensa de novos casos da Covid-19 em todo o mundo, o que pode gerar um retrocesso violento na recuperação das principais economias.
Mas há quem tenha uma visão mais estratégica do sector e sublinhe que estes cortes e aumentos da produção de crude na OPEP+ tem mais a ver com a necessidade de manter sob controlo o fracking norte-americano, porque os 40-45 USD por barril não é suficiente para que estes produtores regressem aos mercados, ao mesmo tempo que permite à produção tradicional offshore manter uma rentabilidade minimamente atraente para os países e para as multinacionais do sector, excepto lá onde a extracção de crude é mais cara, como é o caso dos blocos de grande profundidade, que é o casos de alguns dos localizados nos mares de Angola, obrigando à contenção das majors que ali operam, desde logo a Total ou a BP, entre outras.
Para as coisas estão a correr relativamente bem para Angola, e os países africanos mais dependentes da exportação de crude, que viram o barril de Brent, de Londres, subir mais de 22 USD nos últimos dois meses, sendo que, no caso, nacional, este valor está claramente acima do valor de referência do OGE revisto, que ficou nos 33 USD por barril.
Hoje, cerca das 11:50, o barril de Brent estava a valer 42,6 USD, menos 1,50 % que no fecho da sessão de sexta-feira, reflectindo o receio de que uma decisão da OPEP+ possa desequilibrar o mercado.
Em Nova Iorque, o WTI Crude estava, à mesma hora, com o mesmo comportamento, caindo 1,82%, para 39,8 USD por barril.