Por um lado, a matéria-prima encolhe no que vale com os dados oriundos da China, onde os estranhos, observados do ocidente, e alargados confinamentos devido à resiliência da Covid-19 conduzem a uma menor procura por petróleo na segunda maior economia do mundo e o maior importador de energia.

Por outro lado, o petróleo ganha, por estes dias, um ímpeto que vem do leste europeu, onde a guerra Rússia/Ucrânia está a colocar o gás natural a preços que queimam as economias ocidentais e estas, que já começam a dar sinais de estarem no limite do que podem pagar pelo gás natural, começam a virar-se para o crude como alternativa, seja no sector industrial, seja na produção de energia eléctrica.

Isso mesmo está plasmado hoje no último relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) que revela estar na posse de dados claros sobre a opção em curso para o "switch" do gás natural para o petróleo, que pode ultrapassar os 700 mil barris por dia entre Outubro deste a o e Março do ano que vem.

Estes dados, lisonjeiros para o negócio do petróleo, estão ainda suportados na visão da OPEP que estima, segundo um documento agora revelado, que as economias ocidentais mais relevantes, apesar de estarem a lidar com a severidade da inflação, estão a obter resultados muito melhores que o esperado, o que conduzirá a um acrescento no consumo de "ouro negro".

Sabe-se, todavia, que, como sublinha um analista citado pela Reuters, a OPEP tende a ver a economia com "óculos com lentes cor-de-rosa", ignorando que a inflação esconde, ao virar da esquina, um risco real de recessão, e se a inflação não impacta de forma severa no consumo de energia, a recessão pode fazer desmoronar essa montanha de optimismo.

Para já, como se pode ver nos gráficos dos principais mercados, o barril está claramente a ganhar raízes no patamar dos 92 aos 95 dólares norte-americanos, o que corresponde a um equilíbrio de forças que, como um braço-de-ferro entre dois oponentes com massa muscular equivalente, tende a balançar pouco...

O barril de Brent, que é a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava hoje, perto das 11:15, hora de Luanda, a valer 93,06 USD, mais 0,2% que no fecho de terça-feira, valor aproximado em que se manteve ao longo desta semana, correspondendo ao referido equilíbrio de forças.

O que, no fim das contas feitas, é uma notícia interessante para o momento actual da economia nacional e quando um novo Governo se prepara para assumir funções, depois da tomada de posse do PR na quinta-feira, 15, que é uma das mais sensíveis ao sobe e desce dos mercados pela forte dependência que ainda mantém da matéria-prima, respondendo esta por 95% das exportações nacionais, 35% do PIB e perto de 60% das receitas fiscais, sendo que tem vindo a acumular, nos últimos anos, um super-avit relevante face ao valor de referência assumido para o barril no OGE em vigor.

No entanto, há outros factores a ter em conta quando se olha para a monta-russa em que o barril está permanentemente.