A China é o maior importador de petróleo em todo o mundo e quando a sua economia espirra, o negócio global da energia abeira-se do coma, o que não é o caso, no todo, mas é-o no que toca a Angola, com as importações do gigante asiático das ramas angolanas a cair em Agosto 34 por cento, o que está a contribuir para travar o esforço nacional para aumentar a produção.
Esta derrapagem das exportações angolanas para a China contrasta com a evidente maior procura da economia chinesa do crude produzido na Rússia, o que resulta da crescente cooperação entre Moscovo e Pequim no contexto da construção de uma nova ordem mundial que ambas as potências confirmam querer, mas também face aos descontos que a Rússia está a fazer à sua energia no âmbito das sanções ocidentais ao seu petróleo e ao seu gás por causa da invasão da Ucrânia a 24 de Fevereiro.
Com o fluxo de petróleo a cair para zero em direcção aos EUA e a reduzir fortemente para a União Europeia, devido aos sucessivos pacotes de sanções aplicadas como castigo pela guerra no leste europeu, a Rússia apostou em mudar a agulha para oriente, conquistando mercados, especialmente os chinês e indiano, através de uma política agressiva de descontos que levou, embora hoje essa diferença seja menos pronunciada, a diferenças na ordem dos 40% face aos valores médios dos mercados.
Com o fornecimento russo a todo o vapor, até porque a Rússia é um dos três maiores produtores do mundo, a par dos EUA e da Arábia Saudita, os mercados asiáticos estão agora bem guarnecidos e com menor necessidade de procurar abastecimento em África ou mesmo no Brasil, onde também a China deixou de ir buscar crude, descendo as exportações do gigante sul-americano para Pequim em quase 50%.
Isto, ao contrário do que sucede com o petróleo russo, que tem estado a aumentar a olhos vistos, chegando, segundo avança a Reuters, a crescer mais de 7% entre 2021 e 2022.
Em pano de fundo, os mercados Brent, de Londres, e WTI, em Nova Iorque, estão a reflectir a ambivalência da economia global, que, ora se apresenta em forma de tempestade, com vagas de inflação, ventos de recessão e ameaça de um tsunami de desemprego, tanto na Europa ocidental como nos EUA, pontuados aqui e ali com subidas desesperadas da taxas de juro pelos bancos centrais para desinflamar os órgãos económicos mais relevantes, ora se apresenta com esperança e bonança, como é o caso da China que, apesar dos confinamentos da Covid, volta a registar maior procura de energia e a apresentar dados promissores nas suas exportações.
É assim que o barril de Brent, que determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, está hoje a recuperar perto de 0,6%, para os 92,57 USD, relativamente aos contratos para Outubro, sendo semelhante o comportamento no WTI, que, pelas 10:30, hora de Luanda, tal como em Londres, recuperava 0,46 %, para os 86,19 USD.
No que diz respeito a um país como Angola, que ainda depende fortemente das exportações de crude, que é responsável por 95% do total destas, de 35% do PIB e mais de 60% das receitas fiscais, o que interessa e estar atento às movimentações dos bancos centrais das grandes economias globais, desde logo a Reserva Federal norte-americana e o Banco Central Europeu, que se preparam para novas e robustas subidas das taxas de juro como arma para "matar" a pronunciada subida da inflação que faz temer, alguns analistas/economistas dizem mesmo ser já inevitável, uma recessão euro-norte-americana mesmo antes do fim do ano.
E em ambiente de recessão, que leva a inevitáveis subidas do desemprego, que, por sua vez, abre a porta grande à redução da produção industrial e reduz o volume de transportes, empresariais e familiares, o consumo de energia ressente-se de imediato e as importações de crude sofrem na mesma medida, o que, para Angola, pode mesmo ser um pesadelo porque esta receita é ainda fundamental para que o Governo possa lidar com a grave crise económica em que o país está mergulhado há vários anos.
Mas a crise económica global alimentada, entre outras frentes, pela guerra na Ucrânia, com a inflação a subir em flecha nas grandes economias ocidentais, com o ruidoso anúncio de uma recessão nos EUA e o risco de fecho de grande parte da indústria europeia dependente do gás russo, devido às sanções de Moscovo - corte do fornecimento - às sanções... europeias, também não está a deixar o barril flutuar sem sobressaltos.
Face a este cenário tempestuoso, os mercados voltaram, nestas últimas duas semanas, a parecer uma montanha-russa, num sobe e desce impróprio para traders com estômago fraco, o que não permite aos governos, tanto os que dependem da venda de crude, como os que importam energia, definir planos sólidos para enfrentar estes tempos turbulentos.
E esta é uma má notícia para o novo Governo angolano, especialmente para a reempossada ministra das Finanças, Vera Daves, que vai ter de lidar com a instabilidade dos mercados petrolíferos, apesar de ainda numa fasquia tranquilizadora, mas substancialmente menos do que era preciso para enfrentar com renovado empenho o combate à crise económica nacional, respondendo aos igualmente renovados desafios da V Legislatura anunciados pelo reempossado Presidente João Lourenço: combater a fome, a pobreza e o desemprego.
Com os olhos sempre postos na crise do gás russo na Europa, o crude vai, forçosamente, depender na sua perda ou ganho de valor, da capacidade europeia de enfrentar a crise energética este Inverno.
Ou seja, se os russos fecharem mesmo a torneira do gás como sanção às sanções europeias por causa da guerra na Ucrânia, e se as reservas alemãs ou italianas, não estiverem compostas - e é esse o caso -, então os preços poderão disparar no futuro.
Mas, até lá, até ser claro que essa esperada crise se agigante ensombrando o futuro da Europa ocidental, o barril de crude ainda deverá afundar... sendo a submersão forçada também pela valorização recorde de duas décadas do dólar norte-americano.