Estes dados são importantes porque a possibilidade de sucesso nas negociações entre o Irão e os restantes parceiros no acordo nuclear de 2015, que são os EUA, a China, a Rússia, Reino Unido e a União Europeia, significa que serão levantadas as sanções que estão a limitar as exportações de crude deste gigante produtor do Médio Oriente.
As sanções que foram impostas pela Administração norte-americana de Donald Trump, em desacordo com o acordo de 2015 assinado pelo seu antecessor, Barack Obama, e que agora Joe Biden quer retomar, retiraram mais de 2 milhões de barris por dia (mbpd) dos mercados e que, agora, progressivamente podem ser repostos e até aumentados a prazo, visto que este país, que é um dos maiores produtores/exportadores do mundo, tem potencial de chegar aos 5 mbpd.
As conversações poderão ser retomadas já em Novembro, sendo esse dado fundamental para os mercados, como ficou claro aquando no anúncio da intenção de Washington de voltar à mesa das negociações com Teerão, quando o barril perdeu uma parte substancial dos ganhos conseguidos com a diluição dos efeitos dapandemia da Covid-19 e da massificação da vacinação global.
Agora, com a possibilidade de ser retomado o JCPOA (sigla em inglês do acordo), fica em aberto a possibilidade de o Irão voltar a exportar abertamente e com reduzidas limitações, inicialmente, e depois sem quaisquer imposições no futuro, o que coloca em cima da mesa uma dose suplementar de crude disponível, até 2 mbpd, nos mercados, o que pode simplesmente colocar em causa a eficácia dos planos de cortes e recuperação da OPEP+, que está hoje a cumprir um processo de aumento mensal, até 31 de Dezembro, de 400 mil bpd.
A OPEP+, organização que desde 2017 junta os países exportadores (OPEP) e 10 não-alinhados liderados pela Rússia, que integra igualmente o Irão, tem sido pressionada pelas grandes economias, como os EUA e a União Europeia, Índia e China no sentido de colocar mais crude no mercado para reduzir a escalada vertiginosa dos preços do barril nos últimos meses.
Com esta "ameaça" de petróleo iraniano a chegar, esse esforço poderá cair por terra e exigir novas medidas de redução da oferta, porque existe o risco de a matéria-prima voltar a perder valor de forma significativa, como o demonstra o facto de só essa possibilidade estar a fazer cair o barril para mínimos de duas semanas, para, ao início da tarde de hoje, 28, os 83,5 USD, no Brent, uma perda de quase 1,5% face ao fecho de quarta-feira.
A par deste regresso do crude iraniano aos mercados, estes estão igualmente pressionados pelo aumento nos stocks norte-americanos que, por norma, é interpretado como uma redução da actividade económica e ou maior produção interna.
A maior produção interna nos EUA, que é actualmente o maior produtor do mundo, deixando para trás Arábia Saudita e Rússia, mas igualmente o maior consumidor global, resulta invariavelmente da retoma importante do seu sector do fracking, ou petróleo de xisto, muito vulnerável ao sobe e desde dos mercados devido ao seu elevado breakeven.
E com os valores actuais do barril, a indústria do fracking - extracção de crude e gás no subsolo com recurso à implosão do xisto através da injecção de água e químicos a alta pressão - encontra caminho aberto para voltar em forma, visto que o breakeven, em média entre os 60 e os 70 USD, e que tem vindo a baixar devido ao surgimento de novas tecnologias.
No entanto, com o aproximar da COP26, em Glasgow, Escócia, onde se esperam enunciados fortes contra a queima de combustíveis fósseis de forma a descarbonizar rapidamente a economia global, pode inverter esta tendência.