O tombo do valor do crude nos mercados resulta de uma iniciativa dos EUA que ainda não tem os contornos bem definidos mas que aparenta ter pernas para andar e que é levar as grandes economias mundiais a libertar parte das suas reservas estratégicas de forma a baixar o seu preço.
Para já, segundo revelam as agências, o pedido do Presidente norte-americano no sentido de injectar crude extra para arrefecer os mercados, teve uma resposta decisiva, que foi a da China, tendo mesmo Pequim avançado com um calendário preciso para isso.
Com esta resposta positiva ao desafio de Joe Biden, fica claro que a conversa mantida com Xi Jinping na quarta-feira teve mais frutos que aqueles que foram imediatamente apercebidos nas sínteses libertadas dessa reunião por telefone.
Com EUA e a China, as duas maiores economias planetárias e, de longe, os maiores consumidores de combustíveis fósseis, a agir em conjunto, o mercado viu-se forçado a reagir de acordo com essa realidade que é passar a haver mais crude disponível para alimentar as economias sedentas de energia.
Para se ter em conta a importância desta iniciativa, à qual também poderão aderir europeus e a Índia, ou mesmo o Japão, considere-se que os EUA possuem reservas estratégicas de crude superiores a 700 milhões de barris enquanto a China, embora isso seja mantido em segredo, os analistas estimam que se situe entre os 200 e os 350 milhões de barris.
Esta urgência surge num momento em que o mundo se depara com uma situação inaudita que é tudo parecer confluir para um crescimento económico robusto devido à saída dos efeitos mais devastadores da pandemia da Covid-19 mas com problemas inesperados a travarem fortemente esse crescimento, desde logo por causa de graves crises energéticas na Europa, com o gás natural e o carvão a valorizarem em flecha.
Mas ainda porque a OPEP+, organização que junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e a Rússia + um grupo de 10 desalinhados, desde 2017, num esforço conjunto para equilibrar os mercados de definirem preços através da abertura e do fecho da torneira à medida dos seus interesses, não tem estado a ceder à pressão das grandes economias, desde logo os EUA, para aumentarem a produção além do que está previsto no programa definido em Junho, que passa por acrescentar 400 mil barris por dia até 31 de Dezemro, quantidade de crude que é considerada aquém do necessário nestes tempos de optimismo pós-pandémico.
A baixa dos preços está ainda a ser forçada por outra inusitada circunstância na economia global que é a crise logística que se atravessou no comércio marítimo mundial, com aumentos brutais no transporte de contentores, no défice de navios para vazar mercadorias da Ásia para o ocidente ou ainda o encerramento forçado de unidades fabris na China por falta de matéria-prima disponível, especialmente no sector automóvel, havendo ainda notícias de portos importantes a trabalhar a meio gás por falta de peças para a manutenção da infra-estrutura portuária.
A par disto, o cenário que comprime os mercados petrolíferos é composto ainda pelas exigências planetárias de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, o que levou ao desmantelamento de centrais a carvão por todo o mundo, especialmente na China, mas que hoje estão a ser reactivadas devido à crise energética.
A descarbonização, mesmo com a realização da Cimeira Mundial do Clima, a COP26, na Escócia, é igualmente uma das vítimas desta crise.
Por agora, porque o futuro vai exigir que esse esforço seja recuperado, com efeitos impactantes nas petroeconomias como a angolana e como as instituições nacionais já o admitem sem rebuço.