A recessão é quase uma realidade e pode vir a agravar fortemente o problema, mas, para já, é a inflação que mostra os dentes e é quanto baste para os mercados se encolherem com medo que está para vir, ou seja, a procura pela matéria-prima está a cair a pique e isso reflecte-se imediatamente no valor do barril.

Entre sexta-feira, e hoje, o barril de Brent, que serve de referência para as exportações das ramas angolanas, perdeu mais de 6%, estando hoje, perto das 12:20, hora de Luanda, a valer 85,10 USD, uma quebra de 1,20% face ao fecho da última sessão, dia em que já tinha acumulado um deslize de 5%.

Por detrás deste declínio, que é um péssimo início para o Governo de João Lourenço neste arranque do seu segundo mandato, porque a economia angolana é ainda fortemente dependente do sector petrolífero, está a iminente recessão global.

Mas, em pano de fundo, agora e há sete meses, está a guerra da Ucrânia, que levou, inicialmente a ganhos volumosos e agora está na génese destas perdas, porque a alta do crude levou a problemas económicos que os bancos centrais ocidentais se viram na obrigação de proceder a fortes subidas das taxas de juro que, ao mesmo tempo, travam a inflação e esmagam o consumo, num efeito que pode ser de tiro que sai pela culatra para o ocidente mas uma catástrofe para os países que dependem da exportação de energia fóssil.

E Angola está entre os que mais balançam com este sobe e desce dos mercados porque ainda depende do petróleo em 95% do total das suas exportações, 35% do PIB e cerca de 60% das receitas fiscais.

Há, no entanto, outro factor de risco que se revelou nesta crise: a forte valorização do dólar norte-americano, que, por exemplo, em relação ao euro, está a valer em patamares recorde de duas décadas, ou seja, desde a criação da moeda única europeia, nos 0,97 USD...

E isto é problemático porque os países usam, de forma generalizada, o dólar como moeda franca mundial para este negócio, o que os leva a precisar de mais das suas moedas nacionais para obter um USD, o que tem um reflexo imediato e substantivo nas respectivas economias, pressionando em baixa a compra da matéria-prima.

E o cenário mais previsível para os próximos meses é de um misto de efeitos pressionantes ora em baixa, como a recessão que se avizinha e parece já incontornável, ora em alta, como o corte do crude gás russo para a Europa, que pode levar a uma brica redução do crude disponível nos mercados mundiais.

Mas tudo pode sofrer um volte face, numa e noutra direcção, se a OPEP+, que agrega os 13 países exportadores (OPEP) e 10 desalinhados, encimados pela Rússia, na sua próxima reunião para analisar mercados e realinhar o programa de cortes ou de aumento de produção, no início de Outubro, optar, como já fez este mês, diminuir a produção.

Porém, este momento pode ser relativizado quando o "cartel" se reunir a 05 de Outubro, porque os seus 23 membros estão a produzir muito abaixo das quotas atribuídas, sendo disso exemplo Angola, que há meses sucessivos não consegue corresponder ao compromisso assumido no seio deste grupo, mantendo-se com uma produção diária pouco acima dos 1,1 milhões de barris.

A OPEP+ tem um défice, face aos compromissos do lado da produção, perto de 3,6 milhões de barris por dia, um dos maiores défices desde Junho.