Este somatório de falta de avanços nas negociações com o anúncio, na quinta-feira, da Agência Internacional de Energia (AIE) de que os mercados petrolíferos podem ficam sem 3 milhões de barris por dia (mbpd) provenientes da Rússia, estão a inverter a tendência de baixa no valor da matéria-prima que passou de 97 USD na quarta-feira para 109,5 USD a meio da manhã de hoje, em Londres.

Esta é já a quarta semana de forte sobe e desce nos mercados do sector petrolífero, sendo o ritmo incerto marcado pela operação militar russa na Ucrânia e os seus reflexos na economia mundial, desde logo um aumento impactante nos combustíveis e nos alimentos, uma inflação galopante e a incerteza quanto ao evoluir da situação no terreno.

A isto acrescenta-se o pacote de sanções à Rússia, o mais denso jamais aplicado a um país por parte dos estados e organizações ocidentais, que, embora tenham tido o cuidado de não abranger o fornecimento da energia russa, gás e crude, está a levar a uma convulsão da economia russa e que pode, no limite, levar a que Moscovo retalie com o corte do fornecimento destas matérias-primas à Europa, que é delas fortemente dependente.

Face a este cenário, gerado pela guerra na Ucrânia, que vai no seu 24º dia a contar de 24 de Fevereiro, dia em que as colunas militares russas avançaram sobre o território do país vizinho, perto das 11:45, hora de Luanda, o barril de Brent estava a valer 109,05, mais 2,26% que no fecho de quinta-feira, o que perfaz em apenas dois dias uma subida próxima dos 8%.

Em Nova Iorque, o WTI estava a ter um comportamento semelhante, valendo, à mesma hora, 104,29 USD.

Angola é um dos países que mais está a beneficiar deste período de ganhos no sector petrolífero e o Governo de João Lourenço tem - ou tinha - uma última oportunidade para investir na diversificação da economia com o rendimento extra do petróleo e num tempo histórico em que o mundo caminha a passos largos para a transição energética, libertando-se dos combustíveis fósseis, como único caminho de se defender da catástrofe climática que se adivinha.

Este sobe e desce nos mercados é de extrema importância para Angola, País que tem uma forte dependência das exportações de crude, que representa 95% das suas exportações, mais de 35% do PIB e perto de 60% dos custos com o funcionamento diário do Estado.

Contexto

A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de KIev da soberania russa da Península da Crimeia, integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, em mais de 60%.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...

Milhares de mortos e feridos e mais de 3 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.