O barril de Brent, que define o valor médio das ramas exportadas por Angola, disparou hoje mais de 7%, para os 105 USD, depois de a Agência Internacional de Energia (AIE) ter divulgado um relatório onde adverte que, já no início de Abril, o mundo pode ficar sem mais de 3 milhões de barris por dia (mbdp) dos 8,5 mbpd que a Rússia injecta no mercado.

Por detrás desta quebra no fornecimento russo estão as contingências na economia global e as restrições no acesso da sua indústria petrolífera a bens essenciais ao seu funcionamento normal e ainda às sanções impostas por causa da guerra na Ucrânia.

Uma das razões para este refluxo nos mercados da matéria-prima são os sinais dúbios que chegam da linha da frente das negociações de paz, onde as coisas parecem estar a ser manos céleres do que se chegou a pensar na quarta-feira, com o lado ucraniano a avançar com novas exigências que se considera de difícil aceitação por parte da Rússia, como seja a questão da "integralidade territorial" da Ucrânia.

Angola é um dos países que mais está a beneficiar deste período de ganhos no sector petrolífero e o Governo de João Lourenço tem - ou tinha - uma última oportunidade para investir na diversificação da economia com o rendimento extra do petróleo e num tempo histórico em que o mundo caminha a passos largos para a transição energética, libertando-se dos combustíveis fósseis, como único caminho de se defender da catástrofe climática que se adivinha.

Angola tem, ainda, devido a atrasos por muitos considerados inexplicáveis no esforço de diversificação económica e libertação da dependência das exportações de crude, no sector 95% das suas exportações, mais de 35% do PIB e perto de 60% dos custos com o funcionamento diário do Estado.

Contexto

A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de KIev da soberania russa da Península da Crimeia, integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, em mais de 60%.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...

Milhares de mortos e feridos e mais de 3 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.