O INTREC- International Training Center Oil & Gas, localizado em Luanda, é o único centro de formação obrigatória em "Controlo de Poço - Well Control" que lecciona em língua portuguesa no continente africano e tem certificação internacional emitida por um dos dois organismos que o fazem em todo o mundo.
O Centro de Formação Internacional - INTREC, que tem actualmente em funcionamento um curso contínuo na área de Well Control (WC), com capacidade para formar 60 alunos por mês, é um investimento de cerca de 1,2 milhões de dólares norte-americanos e uma iniciativa de dois empresários com nacionalidades brasileira e angolana, Lincoln Nunes e António Madureira.
Com a garantia internacional de certificação emitida pela Associação Internacional de Empresas de Perfuração (IADC, sigla inglesa para International Association of Drilling Contractors), baseada em Houston, no Texas, EUA, o INTREC depara-se actualmente, segundo Lincoln Nunes, com uma questão que é de difícil explicação: "Tendo as empresas a possibilidade de formar os seus trabalhadores em Angola, com menos gastos próprios, ao mesmo tempo que proporcionam ao país a possibilidade de poupar divisas, como é que ainda se opta maioritariamente pela formação no exterior?".
Isto, tendo ainda em conta que todos os trabalhadores que acedem às plataformas, independentemente da função, desde o simples pintor ao operador dos equipamentos mais sofisticados, têm obrigatoriamente de renovar esta formação de dois em dois anos, sob risco de não poderem sequer subir a bordo das estruturas offshore.
Uma vantagem comparativa é que o INTREC é o único centro certificado pelo norte-americano IADC em África, sendo que as alternativas no continente são todas certificadas pelo europeu International Well Control Forum - Fórum Internacional de Controlo de Poço (IWCF, na sigla em inglês), com sede nos Países Baixos (Holanda), estão localizados nos Camarões, Gabão e Nigéria e nenhum deles oferece formação ministrada em português.
Um investimento contra a crise
Em declarações ao NJOnline, Lincoln Nunes explicou que a concepção do projecto e o investimento surgiu "exactamente a partir da constatação de que existia no Governo angolano uma estratégia de angolanizar a indústria do petróleo, da afirmação da necessidade de investir no sector para minimizar o gasto de divisas e ainda num momento em que o país enfrentava o pico da crise económica" criada com a queda abrupta do valor do crude em meados de 2014.
"Tudo, considerando ainda que esta formação é obrigatória e pode ser paga pelas empresas em moeda nacional", acrescentou.
O INTREC foi pensado em 2015 e em 2016 já tinha as actuais instalações funcionais, numa área de 10 mil metros quadrados, ocupando as instalações 1.000 metros quadrados, o que deixa perceber a existência de potencial de crescimento se a procura aumentar de acordo com as expectativas existentes.
Actualmente, o INTREC está preparado para receber 60 formandos por mês, que é a capacidade do simulador adquirido, existindo a possibilidade de contar com um segundo simulador se a procura o justificar no curto, médio prazo.
Procura essa que Lincoln Nunes admite poder chegar de todo o continente africano, porque é esse o universo que o INTREC ambiciona atrair, especialmente o florescente mercado do gás natural em Moçambique, aproveitando o facto de este ser o único centro de formação em língua portuguesa no sector certificado pelo IADC em todo o continente africano.
A gerir o centro, Eduardo Trindade (na fotografia), engenheiro de petróleos, está em Angola a partir de uma parceria que o INTREC estabeleceu com os brasileiros do SQC Group, lembra que este tipo de formação, para além de obrigatória para os trabalhadores que sejam colocados numa plataforma, tem forçosamente de ser renovada de dois em dois anos.
A formação em questão, de "Controlo de Poço", tem a duração de uma semana, mas, sublinha Eduardo Trindade, no final, o conjunto de formandos é submetido a uma dura prova de aferição de competências que conta com a inspecção directa do IADC..
O universo de empresas abrangido pela obrigatoriedade de dar esta formação aos seus trabalhadores vai da perfuração à produção e à prestação de serviços, o que eleva o potencial de alunos para a casa dos milhares, tendo em conta, lembra Trindade, o número de plataformas existente no país.
Em Angola existem cerca de duas dezenas de plataformas e cada uma delas necessita de aproximadamente 200 trabalhadores em simultâneo, carecendo todos eles desta formação para poderem estar neste tipo de instalação petrolífera.
Mas não só - lembra Eduardo Trindade - também os navios sonda "drill ship" exigem que a sua tripulação obtenha esta formação, especialmente na área do Blowout Preventer (BOP), que é o elemento submergido da estrutura que liga a "cabeça do poço" e o fundo do mar, tendo o estatuto de um dos elementos mais importantes de todo o sistema de perfuração.
O que é aplicado aos dois recentes "drill ships" que a Sonangol adquiriu à sul-coreana Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering Co., por mais de mil milhões USD.
Apesar de ter dado esta formação a "apenas" pouco mais de uma centena de trabalhadores, o que é pouco para os três anos de funcionamento do INTREC, mesmo que continuamente as empresas estejam a enviar os seus trabalhadores para formação no exterior, com os custos acrescidos e o "desperdício" de divisas inerente, Eduardo Trindade sublinha que em cima da mesa está a ideia de alargar a área de formação para a "Segurança Operacional", desde que as empresas mostrem interesse em avançar para essa formação em Angola.
Isto, porque, para além de ser fundamental o interesse das empresas a operar em Angola, o Intrec está apostado em captar formandos em todo o continente africano, contando para isso com a vantagem de fornecer a formação, para além do inglês, também em língua portuguesa.
Angola é actualmente o 2º maior produtor de petróleo africano, com cerca de 1,4 milhões de barris por dia, e um membro da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) desde finais de 2006.
Com o advento da crise, forjada a partir da queda do preço do barril em Junho/Julho de 2014, quando este passou de mais de 100 USD para menos de 30 no início de 2016, as grandes multinacionais deixaram as suas infra-estruturas em stand by, com alguns abandonos de plataformas, retirando milhares de trabalhadores do país.
Mas, com a recuperação do valor da matéria-prima nos mercados internacionais - está actualmente acima de 71 USD por barril em Londres (Brent) - algumas petrolíferas globais, como a francesa Total, ou a italiana ENI, regressaram a Angola, assim como outras, gerando um novo elã para o sector e, concomitantemente, para o INTREC, que permite a estas empresas formar os seus trabalhadores com certificação internacional obrigatória sem sair de Angola.