"Ian", o furacão, dirigiu-se para o Golfo do México - extensa massa de mar que separa o México dos Estados Unidos -, onde os EUA, o maior produtor do mundo, têm uma parte substantiva, próximo de 2 milhões de barris por dia (mbpd), da sua produção diária, acima dos 11 milhões mbpd, e os mercados, sempre muito sensíveis aos temperamentos do clima, perante o risco de tanto petróleo a esfumar-se da oferta, fez o que sempre faz nestas circunstâncias, valoriza a matéria-prima.
E foi assim, graças a um inesperado, mas não raro, furacão a varrer o Golfo do México, obrigando as petrolíferas, por razões de segurança, a fechar as suas plataformas, que o barril de crude saiu de uma trajectória de perda que já durava há muitos dias, e estava mesmo a sufocar sob um recorde negativo de nove meses.
Mas ainda não é já que o Governo de João Lourenço pode sorrir, porque esta ajuda do "Ian" só serviu mesmo para aliviar para mau aquilo que estava a ser muito mau, permitindo uma ligeira recuperação, perto das 10:50, hora de Luanda, de 1,30 %, para os 84,97 USD.
Até porque se há uma coisa que os analistas sabem bem, e, concomitantemente, a ministra das Finanças, Vera Daves, e o Chefe do Executivo, também, é que os furacões são passageiros, mas as razões de fundo para o mau momento do negócio global de crude, permanecem inamovíveis apesar da ventania no Golfo do México.
E são elas a ameaça de recessão ao virar da esquina nas grandes economias ocidentais, EUA e Europa ocidental, ou ainda no Japão, a inflação que, ao contrário do "Ian", que se concentra no Golfo do México, está a abanar os mercados em todo o mundo, as subidas das taxas de juro em todos os grandes Bancos Centrais - no rasto destes vendavais - e, em pano de fundo, a guerra na Ucrânia, que está a espalhar os seus efeitos devastadores pelas economias europeias como fogo no capim seco nas extensas savanas africanas.
Face a este cenário, onde tudo se conjuga para a redução da procura, e o furacão "Ian" é, seguramente, vento de pouca dura, com Angola, tal como outras petroeconomias, à espera de tempos mais calmos no horizonte, entre os países mais desgastados pelo mau momento, face aos 95% que a matéria-prima vale no geral das suas exportações, os 35% no PIB e os perto de 60% nas suas receitas fiscais, só outra tempestade pode manter o negócio do petróleo à superfície deste mal agitado que é hoje a economia planetária: a OPEP+.
Com efeito, os analistas já olham para a próxima reunião do cartel que desde 2017 junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinahados encimados pela Rússia, para equilibrar os mercados a seu favor, marcado para 05 de Outubro, como o momento que pode alterar este inevitável tombo para o abismo do crude.
Só que apenas a data, 05 de Outubro, é certa, porque a decisão que os 23 membros da OPEP+ vão tomar, se aumentam ou diminuem a produção, face às dificuldades sentidas pelos mercados, é como os boletins meteorológicos, dificilmente os furacões seguem o percurso previsto pelos meteorologistas, porque são muitas as variáveis que não se podem controlar, desde logo a temperatura das águas do mar, que é como quem diz, o que vai fazer o Presidente russo na Urânia, o que vão fazer os Bancos Centrais europeu e norte-americano, etc etc....
Certo, certo... e garantido, é que se o cartel optar por reduzir a produção, como já fez no início de Setembro, para Outubro, depois de dois anos a fazer permanentes aumentos, barris, isso levará a um efeito semelhante ao do furacão "Ian" no Golfo do México, porque retira petróleo da oferta, reduzindo a superfície para quem o procura comprar, mas se, por contrário, aumentar - menos provável mas não impossível graças às pressões gigantescas dos EUA e da União Europeia -, então, o barril sofrerá novo rombo no seu valor de mercado.
Na reunião mensal de Setembro, a OPEP+ optou por diminuir a produção em 100 mil barris por dia, contrariando mais de ano e meio de constantes aumentos da produção, e isso resultou num ligeiro impulso no preço, que estava a ser esmagado pelas mesmas razões que hoje o "Ian" aliviou.
Recorde-se que este período difícil para os exportadores de crude, como Angola, descende directamente de um dos momentos mais altos de sempre, tendo o barril de Brent chegado, em Março, a ficar a escassos sete dólares do recorde de sempre, 147 USD atingidos em Julho de 2008, devido à guerra na Ucrânia.
E há anda que alinhar nesta carta "meteorológica" o comportamento do dólar dos EUA, que, sendo a moeda franca global, ainda, para o negócio do petróleo, toda a oscilação tem impacto directo a jusante, porque os países importadores precisam de mais da sua moeda nacional para comprar a matéria-prima, quando este fortalece, e menos, quando o dólar desvaloriza.
Momentaneamente, a moeda norte-americana, está a ajudar na valorização, porque está a desinsuflar de um período de semanas a bater recordes de décadas, tendo chegado esta segunda-feira a valer, como nunca sucedeu, mais que o euro e quase em paridade com a libra britânica, o que não suceda há quase duas décadas.