Em cima da mesa está a decisão de prolongar o actual plano de cortes, fixado em 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) até 01 de Janeiro de 2021 para o fim do 1º trimestre do ano que vem quando o que estava previsto seria baixar esses cortes na produção para 5,7 mbpd no arranque de 2021.
Esta extensão da reunião que estava programada para terminar na terça-feira, depois de ter começado na segunda, foi por causa da ausência de acordo entre os dois pilares mais importantes da OPEP+, mas o prolongamento dos cortes para 2021 está a ser equacionado porque os efeitos da pandemia da Covid-19 se prolongaram no tempo além do que estava previsto aquando da formulação do plano de cortes para reequilibrar o mercado fortemente afectado pela crise económica global que emergiu da expansão do novo coronavírus e levou a uma perda na procura como não se via há largas décadas.
Agora, quando o mundo está expectante de um conjunto de vacinas que prometem resolver o problema da pandemia - coincidindo com o anúncio hoje da aprovação da primeira, no Reino Unido, como o Novo Jornal noticia aqui - e, assim, conduzir ao fim da crise económica global, sendo de esperar, como consequência, o aumento da procura pela matéria-prima já no primeiro trimestre de 2021, a ideia de prolongar o actual nível de cortes por mais alguns meses, ao que indicam as agências e os sites especializados que acompanham ao segundo o evoluir da reunião entre os mais de 20 produtores agregados na OPEP+, não é partilhada por todos os membros.
Pior que a ideia não ser partilhada por todos os membros é verificar que os dois gigantes mundiais, na verdade dois dos três maiores produtores do mundo, Rússia e Arábia Saudita - os EUA perfazem este trio - estão em posições opostas, o que, seja qual for a decisão, sem o acordo de Moscovo e Riade, a sua eficácia dilui-se de forma substancial.
É bom lembrar que a OPEP+ representa mais de 50% da produção global e a OPEP a solo não vai muito mais além dos 30%, o que não é suficiente para definir as regras globais.
Enquanto os sauditas querem, como avançam as agências, que citam fontes do interior da reunião, prolongar os cortes actuais como forma de manter os mercados com rédea curta enquanto os efeitos da pandemia não se evaporam por completo com o advento das vacinas, os russos preferem começar a aumentar mensalmente a produção, logo a partir de 01 de Janeiro, em 500 mil barris por dia até alcançar, o que levaria 2 meses, o aumento que estava previsto de 2 mbpd no início do ano.
E os Emirados Árabes Unidos, outro peso-pesado do "cartel" acabou por se intrometer na "guerra" e avançou com a possibilidade de apoiar um prolongamento do plano desde que os membros do grupo garantam que cumprem com as suas obrigações - compliance -, visto que alguns são mesmo acusados publicamente, como é o caso de Angola nos últimos meses, de estarem a produzir além do acordado.
Angola vai presidir em 2021, mas pouco se pronuncia por agora
Sobre esta questão, de manter ou iniciar um aumento gradual da produção, Angola, que vai assumir a presidência rotativa da OPEP a partir de Janeiro, não tornou pública a sua posição, embora a política de Luanda sobre esta matéria seja sobejamente conhecida e não mudou muito ao longo dos anos.
Essa política de Angola, com mais ou menos oscilações, é defender o equilíbrio entre os preços mínimos razoáveis para os exportadores e o que o mercado está disponível a pagar dentro daquilo que é igualmente razoável para as economias importadoras de crude.
Mas este assunto, o desacordo Moscovo-Riade trás más memórias aos membros porque foi depois de uma situação destas que no início deste ano, em Março, os sauditas, visivelmente irritados com os russos, puseram fim "`as negociações semelhantes às actuais e anunciaram uma "guerra" de preços declarada através do anúncio da inundação dos mercados com petróleo barato, o que levou ao descalabro global e a perdas de biliões de dólares entre os produtores, especialmente os africanos.
Para aliviar a pressão, visto que são conhecidos os efeitos céleres das oscilações dos humores em Riade, o porta-voz russo, citado pela Reuters, já veio dizer que esta crise entre os dois gigantes não é severa, sendo mesmo muito menos relevante que a que teve lugar no início do ano.
Face a este cenário, o secretário-geral da OPEP, o nigeriano Mohammed Barkindo, viu-se sem alternativa e anunciou uma alteração de calendário, reprogramando a reunião que estava prevista para hoje, por videoconferência, para quarta-feira, de forma a dar tempo aos membros desavindos de reagruparem ideias e analisarem melhor o que é a linha central dos interesses dos membros do cartel alargado.
Moscovo v Riade
A decisão final está agora a ser definida entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo saudita, o Rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, que é coadjuvado nas decisões mais importantes pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
O problema central nas posições de Moscovo e Riade é que enquanto os sauditas têm um controlo central absoluto sobre o sector petrolífero, matéria-prima que é responsável pela esmagadora maior parte das receitas do reino, na Rússia, onde o peso do crude é igualmente relevante, a questão passa por ouvir um leque alargado de companhias petrolíferas, de dimensões distintas, para as quais as oscilações de preços são fulcrais e os cortes na produção impõem sacrifícios que dificilmente podem ser mantidos por tempo indeterminado.
Como pano de fundo para este dilema está a questão estratégica do fracking norte-americano, que tem nos cortes da OPEP+ um aliado, visto que esta indústria precisa de um valor por barril elevado para ser viável, o que não sucede actualmente.
E se a OPEP+ corta em excesso, o valor do barril aumenta e permite à indústra do fracking nos EUA voltar em pleno, liberta que está de quaisquer acordos, o que vai influenciar em baixa o valor do barril nos mercados internacionais.
Isto, porque sem uma indústria alternativa do fracking - que consiste em injectar água e químicos no subsolo de forma a extrair gás e petróleo no interior da rocha de xisto depois da sua implosão - a produzir com força, os EUA, a maior economia mundial e o maior consumidor de energia do planeta, deixa de ser auto-suficiente ou mesmo exportador para ser consumidor.
E isso - serem os EUA exportadores ou consumidores de crude - faz toda a diferença na nivelação de preços nos principais mercados, seja o Brent, decisivo para encontrar o valor médio das exportações angolanas, seja no WTI, onde se mede o pulso à economia norte-americana.
Sendo o mais certo, segundo diversos analistas e fontes do cartel citados nas últimas semanas pelas agências e sites especializados, que os actuais cortes acabem por se alongar até Março de 2021, uma certeza, porém, só se poderá ter quando. Na quarta-feira, terminar o encontro decisivo entre os decisores de topo da OPEP+.
Luanda pronta, mas...
O secretário de Estado do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás angolano, José Barroso, disse na segunda-feira, quando intervinha no âmbito da reunião em questão, que o País está pronto para os desafios relativos à presidência da organização que vai assumir em 2021.
A representar o ministro Diamantino de Azevedo, José Barroso apontou como caminho manter o foco na flexibilidade e adaptabilidade em nome da procura de soluções de forma proactiva, sublinhando que Luanda está optimista para o que espera o organismo no próximo ano.
O governante angolano sublinhou a existência de constrangimentos mas, relativizando-os, pediu para que os países-membros se empenhem no fortalecimento dos laços do multilateralismo que tem guiado a OPEP nos seus 60 anos de vida.
José Barroso não deixou qualquer, segundo o relato feito pela Angop, indicação sobre o que pretende Angola no que diz respeito à actual polémica no seio da OPEP+, que é prolongar o actual acordo, como defendem os sauditas, ou optar por uma solução intermédia, de aumento gradual, como apontam os russos.