Olhando para os gráficos, percebe-se claramente que o petróleo persiste diariamente numa luta titânica para furar a barreira do pessimismo desde 21 de Abril, quando a pandemia da Covid-19 gerou uma das mais abruptas perdas de valor da matéria-prima nos mais de 150 anos que leva de história moderna de utilização industrial - 1859 - ao cair para valores recorde de 40 USD negativos no WTI de Nova Iorque e 20 USD no Brent de Londres.
Entre os 20 dólares de 21 de Abril e os 37 de 08 de Setembro, onde teve uma recaída que levou a uma estagnação até 30 de Outubro, data da retoma que ainda hoje vigora, o barril de crude do Mar do Norte tem conseguido manter-se à tona da água enquanto aguardava por um salva-vidas que toda a gente sabia ser uma vacina, ou vacinas, que permitisse acabar com a pandemia da Covid-19, o que agora se está a verificar como confirmação dessa previsão.
É assim que, apesar desta ligeira descontinuação da recuperação entre sexta-feira e o fecho da sessão de terça-feira, o barril iniciou o dia de hoje a respirar de alívio devido ao início da campanha alargada de vacinação no Reino Unido com a vacina da Pfizer/BioNTech, enquanto os russos já tinham iniciado há dias a sua campanha interna com a Sputnik V, a vacina Made in Rússia que as autoridades de Moscovo garantem uma eficácia semelhante às produzidas em laboratórios das farmacêuticas ocidentais, superior a 94%.
Hoje, assim, o barril de Brent estava a valer em Londres, perto das 09:40, hora de Luanda, 49,42 USD, mais 1,20% que no fecho de terça-feira, enquanto, à mesma hora, em Nova Iorque, o WTI trepava 1,16%, para os 46,13 USD.
Para Angola, as notícias dificilmente poderiam ser melhores, tendo em conta as circunstâncias, porque, com um OGE 2021 elaborado com 39 USD como referência para o valor médio do barril, a fasquia dos 50 USD que se prepara para alcançar em Londres, representa 11 dólares norte-americanos de folga nas contas, o que permite revigorar os esforços nacionais para conseguir sair do pântano económico em que Angola está há já cinco anos, com sucessivas recessões.
O crude é ainda responsável por mais de 50% do PIB nacional, cerca de 94% das exportações e mais de 60 por cento das receitas do Executivo, o que não deixa marem para dúvidas sobre a dependência que Angola mantém, há décadas, da matéria-prima e do sofrimento gerado a cada oscilação negativa nos mercados internacionais, como foi o melhor exemplo a crise pandémica que estalou no início de 2020.
Um dos sinais mais importantes notados pelos analistas dos mercados nestes últimos dias foi a opção de compra de futuros pelos gestores dos hedge fund norte-americanos, o que já sucede há cerca de quatro semanas consecutivas, cujos oráculos raramente falham nas previsões de fazem no médio e longo prazo, desde que não sejam surpreendidos por um "cisne negro" como foi o caso da pandemia da Covid-19.
A ajudar a esta festa estão ainda os mais recentes dados lançados pela Agência Internacional de Energia que estima que a produção nos EUA vá declinar em mais de 240 mil barris por dia em 2021.