Primeiro, as vacinas que estão em stand-by, à espera de aprovação para começarem a des distribuídas, são uma garantia de que a pandemia da Covid-19 tem os dias contados, e quando se extinguir, extingue-se a razão para a crise que Angola e o mundo atravessam, a mais grave desde pelo menos 1929, o ano do início da profunda e famosa crise gerada a partir do crash bolsista de Nova Iorque.
Segundo, como alguns analistas têm referido, citados pelas agências e pelos sites especializados, os mercados energéticos vivem muito de expectativas, de confiança e de notícias veiculadas por um conjunto restrito de casas financeiras e media especializados, e essa soma de parcelas, por estes dias, dá o resultado certo para garantir ganhos nos mercados petrolíferos, como são hoje, por exemplo, de novo, o anúncio de novas vacinas mas também de queda abrupta dos stocks nos Estados Unidos da América, a maior economia mundial e o maior consumidor planetário de crude.
Terceiro, a OPEP+, organismo que agrega os Países Exportadores (OPEP) e os seus aliados, um grupo de 10 produtores não-alinhados, liderados pela Rússia, que conjugam esforços desde 2017 para reequilibrar os mercados, fustigados por preços historicamente baixos, cujos órgãos técnicos estão reunidos entre quarta-feira e amanhã, sexta, 27, já deixou claro que está disponível para prolongar o plano de cortes de 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) para lá de 01 de Janeiro de 2021, data que deveria marcar o início de uma descida dos cortes para os 5,7 mbpd, no início de um fade out que, tendencialmente, levaria a zero nos meses vindouros.
Quarto: O petróleo e os mercados que regulam o seu valor diário, são extremamente sensíveis ao optimismo - o contrário também é verdade - e o momento presente é chama viva alimentada a optimismo.
Seja pela promessa de uma recuperação da economia global rápida, havendo mesmo indicadores, como os do Fundo Monetário Internacional (FMI), que dizem que as quedas em 2020, provocadas pela Covid-19, que nalguns países chegaram aos 10%, podem ser apagadas logo em 2021, desde que a pandemia seja efectivamente esmagada pelas vacinas, quer pelo concomitante fim dos severos confinamentos sociais para controlar o vírus nas grandes economias europeias, asiáticas ou americanas.
Mas não se pode esquecer as alterações nas circunstâncias políticas nos EUA, onde ao "nacionalista" Donald Trump se segue o multilateralista Joe Biden, que abre o caminho a uma solução para alguns dos entraves globais à recuperação económica, como, por exemplo, a guerra comercial Washington/Pequim.
Para já, o que é sólido e inamovível é que o barril de crude vendido em Londres já não estava a valer mais de 48,2 dólares desde os primeiros dias de Março deste ano, que, mais dia, menos dia, coincide com o início do período mais nefasto da crise global gerada pela pandemia, a ponto de, no mês seguinte, em Abril, no WTI de Nova Iorque, mercado que mede o pulso à realidade económica norte-americana, o barril ter estado a valer 40 USD negativos, ou seja, mesmo a pagar 40 USD, não havia quem quisesse ficar com crude. Isto, basicamente, porque o mundo, atarantado com a crise inusitada, ficou sem capacidade de armazenamento para a matéria-prima a ser produzida diariamente.
E ainda mais: na última semana, tanto o Brent como o WYI subiram, só na última semana, quase 10%, tendo mesmo, logo na abertura de hoje, chegado a ultrapassar os 49 USD por barril, enquanto o WTI chegava ao valor igualmente recorde de quase 10 meses de 46 dólares.
Face a este cenário, o mundo, especialmente os países cujas economias dependem de forma indelével da exportação de crude, como é o caso de Angola, aguardam agora que as melhores expectativas se confirmem além da valorização do barril, com um aumento coerente da procura, que será sempre resultado do fim das restrições, da retoma do negócio dos transportes aéreos e marítimos, de carga e de passageiros, e da produção industrial nos três mais importantes pilares da economia planetária: EUA-China-Europa.
Em Angola, estas notícias, desde que se confirmem, efectivamente, são música para a equipa económica do Executivo de João Lourenço, que desenhou o OGE 2021 com base num preço de referência para o barril nos 39 USD, sólido e coerente aquando da sua elaboração, em meados do ano, mas bastante abaixo do que seria normal numa fase de recuperação económica e de anulação, via vacinas, da crise pandémica.
Em contramão com este cenário de optimismo generalizado, Angola, que tem ainda no crude mais de 90% das suas exportações e com o sector a responder por mais de 50% do seu PIB, a infra-estrutura produtiva está a exigir avultados investimentos por causa da crise que já vem de 2014 no sector, com boa parte das "majors" a optar por manter tudo em stand by, sem investir mesmo na manutenção de uma boa parte das suas estruturas, a par do envelhecimento dos poços, e devido ainda ao fraco empenho na pesquisa por novos blocos.
Uma das razões para que Angola, em tempo de crise, não esteja na linha da frente das apostas das multinacionais do sector, mesmo que a francesa Total, como é disso exemplo o seu investimento no projecto Kaombo, tenha remado contra a maré, tal como o Executivo, através da produção de nova legislação para atrair investimento, é que o seu crude é essencialmente extraído em águas profundas e ultra-profundas, elevando o seu breakeven para valores muito superiores aos conseguidos no Médio Oriente ou ainda noutras latitudes africanas.
Todavia, a produção nacional, que actualmente ronda os 1,28 mbpd, já abaixo das previsões que a AIE tinha apenas para 2023, que era de 1,29 mbpd, devido, essencialmente, ao desgaste da sua infra-estrutura produtiva, está a ser "esmagada" ainda pelos acordos no seio da OPEP+, em alguns milhares de bpd.
O que significa que o País está especialmente atento ao que for decidido nas decisivas reuniões da OPEP e da OPEP+ marcadas para 30 de Novembro e 01 de Dezembro, onde os ministros do sector vão consolidar a estratégia para 2021, com, em cima da mesa, a decisão de manter ou diluir os cortes à produção face à previsível recuperação da economia mundial e da supressão das razões que estão na ordem da actual crise: a pandemia da Covid-19.