Já nas manchetes dos jornais e nos ecrãs de todo o mundo estavam as promissoras vacinas da norte-americana/alemã Pfizer/BioNtech e da russa Sputnik V, ambas com eficácia testada superior a 90%, mas, agora, a vacina em desenvolvimento pelo consórcio norte-americano-britânico Moderna/Oxford ainda é mais promissora, chega aos 94,5% de eficácia e vem com um bónus que os países menos infra-estruturados, como os africanos, latino-americanos e asiáticos ansiavam.
A vacina da Pfizer/BioNtech é extremamente exigente em termos técnicos para a sua conservação e distribuição, precisando de pelo menos 70º negativos até ser administrada, o que exige uma linha de frio tecnologicamente avançada que é, praticamente, inexistente nas regiões do mundo mais pobres, desde logo o continente africano ou mesmo muitos países latino-americano e asiáticos, e mesmo alguns europeus, onde estas condições não abundam.
Mas esta vacina da Moderna/Oxford, para além de surgir com uma eficácia testada em grupos de voluntários que se aproximam dos 30 mil, segundo os seus criadores, não precisa de mais de 20º negativos para se conservar durante 6 meses e pode ser mantida a temperaturas próximas dos 0º (frigorífico normal) durante mais de duas semanas e é resistente durante mais de 12 horas a uma temperatura ambiente, o que é fundamental numa vacina que venha a ser administrada aos milhões de africanos, por exemplo.
São dados que garantem que, como admitem vários especialistas, a partir da segunda metade de 2021, o mundo possa iniciar de forma sólida o regresso à normalidade, contando ainda para esse caminhar acelerado com a vacina produzida na China e que já está igualmente, tal como estas três, na 3ª fase de testes, aquela que antecede a sua aprovação final.
Tendo em conta que a pandemia da Covid-19 foi a razão essencial para a crise económica global iniciada em Março/Abril deste ano de 2020, com um forte impacto na procura mundial por petróleo - especialmente por causa dos severos confinamentos sociais desenhados para conter a progressão do vírus - o que condenou a maior parte dos países exportadores - como é o caso de Angola, onde o crude ainda representa 94% das suas exportações - a uma crise ainda mais grave devido à sua bem conhecida petrodependência.
OPEP+ ajuda a alongar ganhos
O anúncio das vacinas foi um empurrão gigantesco para a valorização da matéria-prima nos últimos dias/semanas, mas a OPEP+, organismo que agrega os 14 Países Exportadores (OPEP) e os seus 10 aliados liderados pela Rússia, cujos órgãos técnicos e o comité ministerial estiveram reunidos na segunda-feira e hoje por vídeo-conferência, anunciaram que vão defender junto dos respectivos Governos a extensão do actual plano de cortes para além de 01 de Janeiro de 2021 por, pelo menos, três meses, de forma a defender a indústria petrolífera nos seus países dos efeitos da pandemia que se vão manter ainda por algum tempo, apesar das vacinas quase a chegar aos mercados.
Actualmente a OPEP+ tem em curso um plano de cortes de 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) que visa reequilibrar os mercados fortemente afectados pelas vagas pandémicas do novo coronavírus e deveria, segundo o previamente estabelecido, reduzir esse volume para os 5,5 mbpd no início do próximo ano.
Mas, como se previa, os ventos pandémicos não amainaram e o "cartel" viu-se na contingência de ter de reagir, tendo agora, como se previa igualmente, optado pela manutenção do plano de cortes nos níveis actuais.
Estas recomendações dos grupos técnicos, primeiro entre especialistas e depois entre ministros, que deverão levar as conclusões aos seus Governos, podem, no entanto, ser ainda revistas porque, segundo revelam hoje as agências e os sites especializados, há factores que, sendo importantes, estavam relativamente apagados pelos efeitos da pandemia, como é o caso do regresso paulatino da produção líbia à normalidade.
Isto, depois de assinado o cessar-fogo que colocou um ponto final, mesmo que frágil, no conflito entre os rebeldes do general Khaliffa Haftar e o Governo legítimo do primeiro-ministro da Líbia, Fayez al-Serraj, responsável pelo "shutdown" da sua infra-estrutura produtiva, resultando daí um aumento semanal de mais de 200 mil barris por dia estando já a chegar ao 1 mbpd quando a produção deste país, que tem as maiores reservas africanas conhecidas, esteve quase a zeros nos últimos meses.
O impacto, naturalmente, resulta do facto de os cortes da OPEP+ de 7.7 mbpd actuais poderem ser transformados em 6.7 mbpd se o 1 mbpd líbios entrar no mercado sem estar sujeito à regras devido à emergência económica gerada pelo conflito, como já sucedeu no passado com o Iraque ou mesmo a Nigéria por causa da guerrilha no Delta do Níger.
No entanto, esta matéria, fundamentalmente política, depois da reunião do grupo técnico da OPEP+, só deverá ser abordada a 31 de Novembro e 01 de Dezembro, datas em que estarão reunidos todos os ministros que tutelam a área dos petróleos e do gás dos países membros.
Mas no actual contexto, o barril de Brent, onde é definido o valor médio das exportações angolanas, estava hoje, cerca das 10:20 (hora de Luanda), a valorizar o barril nos 43,74 USD, menos uns ligeiros 0,18% que no fecho de segunda-feira - contratos de Dezembro -, dia em que se verificou uma forte subida impulsionada pelo anúncio das vacinas contra a Covid-19.
O WTI, em Nova Iorque, o outro grande mercado de referência global, abriu hoje igualmente com uma pequena correcção em baixa dos ganhos de segunda-feira, para os 41,20 USD por barril, menos 0,34%, isto à mesma hora e igualmente para contratos de Dezembro.