A ameaça de invasão, que as manchetes dos media internacionais mais relevantes davam como certa para o dia de hoje, foi esvaziada com o anúncio de Moscovo de que algumas das suas unidades de combate tinham terminado os exercícios na região e estavam de regresso às suas bases enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, repetia o "mantra" de que não estava prevista nenhuma incursão ao país vizinho
Com este desfecho, não só baixou a tensão na fronteira da Rússia com a Ucrânia, apesar de, em Washington, o Presidente Joe Biden manter como firme a possibilidade de uma invasão, contrariando toda a realidade em curso no epicentro das fricções miliares, como os mercados, tanto os bolsistas, com forte recuperação, como os petrolíferos, respiraram de alívio e estão a retomar a normalidade.
Perto das 10: 10, hora de Luanda, o barril de Brent, nos contratos para Abril (ou seja, estes preços só serão reflectivos nas vendas dos países exportadores no mês de Abril), estava a valer 94,48 USD, +1.14% que no fecho de terça-feira.
A par do desanuviamento da tensão no leste europeu, a economia mundial, que estancou ligeiramente o passo nestes últimos dias, com um mini-crash nas bolsas devido à possibilidade de guerra na Ucrânia "vendida" pelos media globais, está de novo a recuperar a passo largo de dois anos de sufoco pandémico e, com isso, a abrir o funil ao petróleo com um claro aumento da procura num momento histórico em que os grandes produtores parecem incapazes de responder à altura das necessidades.
Desde logo no seio da OPEP+, onde os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 não-alinhados encabeçados pela Rússia, se juntam, desde 2017, para equilibrar os mercados, não estão, sequer, a conseguir alcançar as quotas com as quais se comprometeram, como é o caso de Angola, devido à deterioração da sua infra-estrutura produtiva provocada por anos a fio de desinvestimento e erosão dos stocks.
Num contexto global de afunilamento da oferta, aumento da procura por energias fósseis, ameaças sérias de instabilidade na Europa, com o Presidente dos EUA a ameaçar "furar" o gasoduto de biliões de dólares que liga os confins ricos em gás natural da Rússia, à rica Europa, e com a economia a querer furar de uma vez por todas a malha pandémica, o barril de crude pode, alguns analistas, garantem que está mesmo, a caminho dos 100 USD.
As grandes casas financeiras, como a Goldman Sachs, aponta mesmo para essa meta ainda este ano, estando longe de ser a única com esta perspectiva optimista, do ponto de vista dos exportadores, porque tanto a OPEP estima um forte boost na procura, assim como a Agência Internacional de Energia, o que coloca a matéria-prima a caminho das... estrelas.
E para Angola, estas são boas notícias, até porque a crise profunda em que o País mergulhou a partir de 2014, está longe de diluída, e o crude é ainda responsável por 95% das exportações, reflectindo uma fraca diversificação económica, apesar das promessas de aposta nesse objectivo, por mais de 35% do PIB e acima de 55% dos gastos de funcionamento do Estado.
A importância das exportações de crude está bem clara no último relatório do BFA sobre a balança comercial do País, que, graças a esta matéria-prima, duplicou para 21,3 mil milhões USD.
O Gabinete de Estudos Económicos do BFA, citado pela Lusa, avança que esta melhoria no saldo entre as exportações e as importações contribuiu essencialmente a evolução do valor do petróleo.
Na nota que dá conta de uma melhoria do saldo da balança comercial de 8,7 mil milhões de euros em 2020 para 18,7 mil milhões de euros, o BFA salienta a "recuperação das exportações em cerca de 57%, para 32 mil milhões de dólares [28,1 mil milhões de euros], com as exportações de petróleo bruto a registar uma subida 50% face ao ano anterior".