Depois de o Conselho Constitucional ter destruído quaisquer possibilidade de pela via legal chegar à Presidência da República, anunciando a vitória folgada do candidato do partido no poder desde 1975, Mondlane passou para as ruas a frente de batalha pela "verdade eleitoral".

E uma das etapas desta nova frente de combate em Moçambique pelo derrube da FRELIMO foi marcada por Venâncio Mondlane já para esta fase festiva da passagem de ano, apelando a todos os moçambicanos para entoarem o hino nacional como forma de mostrar que a sua indignação é geral.

Na sua página da rede social Facebook, Mondlane escreveu que a FRELIMO está a tentar dividir os moçambicanos porque viu que nas horas iniciais dos protestos estes estavam todos juntos na sua indignação pela fraude eleitoral.

" O que está a acontecer agora é que o partido que a FRELIMO está a dividir os moçambicanos", avisou o homem que procura, a partir do exterior, mudar o rumo dos acontecimentos, pedindo que instituições internacionais e alguns países, como EUA e Portugal, medeiem eventuais negociações para terminar o impasse nas ruas, visto que oficialmente Daniel Chapo será Presidente de Moçambique já a 15 de Janeiro.

Mondlane acusa o governo da FRELIMO de ter libertado reclusos da cadeia de máxima segurança em Maputo para "semear medo" e ligar os protestos legítimos ao "vandalismo e ao terror" para diluir a indignação popular, apelando, porém, a que acabem as pilhagens e a destruição de bens públicos e privados.

"É um jogo de quem não quer sair do poder e está a organizar todo este esquema para criar um ambiente de terror no meio das pessoas para que as mesmas não exerçam o seu direito de manifestação", disse ainda, citado pela Lusa.

Mondlane voltou a manifestar-se aberto ao diálogo, acusando o partido no poder e o chefe de Estado de rejeitar a mediação internacional.

Na tarde de segunda-feira, 30, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, afastou uma eventual mediação estrangeira para ultrapassar a tensão pós-eleitoral no país, defendendo um diálogo e soluções locais sem "esquemas, arranjos e interesses".

Para Mondlane, ainda citado pela agência de notícias portuguesa, a posição de Nyusi mostra um desinteresse em resolver a crise que o país atravessa e, consequentemente, as manifestações e paralisações devem continuar.

"As manifestações não vão parar (...) Eles querem nos dividir e a única forma que querem usar é o terror", declarou Mondlane, acusando as forças policiais de estar a "matar inocentes" para instalar a "cultura do medo".

O político moçambicano pediu para que os moçambicanos entoem o hino nacional durante a transição do ano, entre as 23:45 e 00:00, para marcar a união, prometendo avançar, na quinta-feira, com detalhes sobre a próxima fase das manifestações, designada "Ponta de Lança".

"Para nós continuarmos com o nosso objetivo, o povo moçambicano deve voltar a unir-se, tal qual aconteceu nas primeiras fases das manifestações (...) Vamos voltar a dar as mãos e contar o hino nacional (...) Que se cozinhe nas ruas para que voltemos à união como vizinhos", afirmou.

Moçambique vive, desde outubro, uma crise pós-eleitoral marcada por manifestações e paralisações, protestos que têm culminado em confrontos entre polícia e manifestações, com quase 300 mortos, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

O Conselho Constitucional (CC) proclamou em 23 de dezembro Daniel Chapo como vencedor da eleição Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio provocou novo caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

Pelo menos 175 pessoas morreram na última semana de manifestações, elevando para 277 o total de óbitos desde 21 de outubro, e 586 baleados, segundo o mais recente balanço feito pela plataforma eleitoral Decide.