Numa declaração assinada pelo seu Presidente, Denis Sassou Nguesso, do Congo-Brazzaville, a CIRGL defende que a recontagem dos votos é a melhor forma de "acabar com as dúvidas e clarificar todos os elementos que podem injectar descredito no processo eleitoral" na RDC.

Esta posição da CIRGL, organização à qual Angola pertence deste a sua fundação, em 2000, e para a qual deu um contributo essencial, surge imediatamente após a SADC, onde Angola é igualmente parte da sua composição, que, para além da recontagem dos votos, aconselha ainda a que os protagonistas da política congolesa encetem rapidamente conversações para que seja erguido um governo de unidade nacional para evitar novos banhos de sangue.

Recorde-se que a CIRGL foi criada no rescaldo de alguns dos mais graves conflitos do continente africano e para procurar que estes não se repitam, nomeadamente as guerras civis no Congo da década de 1990 e o genocídio do Ruanda, em 1984, onde morreram mais de 800 mil tutsis à mãos da maioria hútu, cujas repercussões ainda hoje se fazem sentir no leste da RDC, onde operam guerrilhas oriundas daquele país, como a FDLR.

Para reforçar o pedido, Sassou Nguesso entende, em nome da CIRGL, que "todos os partidos devem empenhar-se num processo político susceptível de melhorar a confiança entre si e fazer o caminho necessário para erguer um Governo de consenso nacional" porque agora essa é a forma de "reforçar as debilitadas instituições nacionais"

Esta posição em tudo semelhante das duas importantes organizações regionais surge depois de terem sido alimentadas dúvidas sobre a verdade eleitoral por parte da Conferência Episcopal do Congo (CENCO), que reúne os bispos católicos congoleses, e que enviou 40 mil observadores para todo o país no dia da votação, que, apesar de não anunciar o "vencedor", garante que não foi aquele que a CENI anunciou, Félix Tshisekedi.

Todavia, um fonte do CENCO afirmou, sob anonimato, que Martin Fayulu, o candidato apoiado pelos influentes Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, ambos impedidos, através de expedientes a mando de Kabila, de se candidatarem, liderava a contagem de votos por larga margem antes de a CENI ter lançado os resultados provisórios dando a eleição a Tshisekedi como garantida.

Face às dúvidas, que também tiveram acolhimentos nos Governos francês e belga, Martin Fayulu deu entrada a um recurso para o Tribunal Constitucional de forma a que os resultados definitivos - que devem ser anunciados 14 dias após a votação - não sejam anunciados pela CENI sem que exista uma clarificação.

Recorde-se que a CENI anunciou no dia 09 deste mês que Tshisekedi foi eleito nas eleições de 30 de Dezembro com 38,5 por cento dos votos, contra 35,2 por cento de Fayulu, tendo o candidato do regime de Joseph Kabila, Ramazani Shadary, ficado a longa distância, a ponto de ter aceitado de imediato a derrota sem contestar.

Esta facilidade, inaudita em situações envolvendo eleições na RDC - e no continente africano -, onde o candidato apoiado pelo regime aceita a derrota com esta "naturalidade", foi um dos motivos que levou alguns analistas a anunciarem estranheza com este cenário.

Imediatamente surgiram rumores que de Tshisekedi tinha chegado a um entendimento por detrás dos panos com Kabila para a gestão partilhada do poder, afastando assim Bemba e Katumbi dos corredores do poder em Kinshasa, uma verdadeira ameaça a Kabila e aos seus imensos interesses económicos no país que governa desde 2001.

Fayulu garante que não vai "abandonar o povo" porque "o povo não votou neste resultado nem era esta a conclusão que queria das eleições".

"Não aceito que se decida num qualquer gabinete a fabricação de resultados falsos para permitir ao sr Kabila recuperar o poder", disse Fayulu, numa clara alusão à ideia de que Tshisekedi alinhou com Kabila para garantir a sua eleição a troco de garantir a Kabila pelo menos uma forte influência nos destinos do país que nunca teve uma transição de poder pacífica desde a sua independência, em 1960.