Esta situação, que tem semelhanças, mas também diferenças importantes, com o que se passou antes da invasão russa da Ucrânia, em 2022, concentra as atenções internacionais porque pode ter um impacto substantivo na guerra entre ucranianos e russos em curso.

A Transnístria (ver mapa), com perto de 4 mil kms2, está separada dos territórios anexados por Moscovo de Kherson e da Crimeia pela região de Odessa, que desde o início deste conflito se espera a todo o momento poder ser também ocupada pelas forças russas.

E este apelo do Conselho local da Transnístria à protecção de Moscovo, motivado, alegadamente, pela preparação de uma "invasão" do Exército da Moldávia, cujo governo é pró-ocidental, para assumir o controlo do território, pode ser parte do plano russo de avanço sobre Odessa.

As informações que chegam da Transnístria são distintas conforme veiculadas pelos media ocidentais ou russos, mas sabe-se que, ao contrário do que sucedeu com o Donbass, a liderança política local pediu, antes de se dirigir ao Kremlin, ajuda a organizações internacionais, enfatizando a pressão económica do Governo moldavo sobre a região.

Este Conselho, eleito na região, que tem estatuto de autonomia no contexto moldavo, alertou as Nações Unidas e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) sobre a preparação de uma tomada pela força do controlo da região pelo Governo de Chisinau, a capital Moldova.

A Transnístria, cuja capital é Tiraspol, tem especificidades culturais e linguísticas que já eram reconhecidas no tempo da União Soviética, de que a Moldávia era uma das 15 Repúblicas, e com fortes ligações sanguíneas à região ucraniana de Odessa e da Crimeia.

Ora, este caldo histórico, segundo alguns analistas, é o pano de fundo para o objectivo inicial da guerra na Ucrânia que Moscovo chamou "operação militar especial", e que começou por ocupar todas as regiões do sul com acesso ao Mar de Azov e Mar Negro, excepto a de Odessa.

O avanço das forças russas sobre Odessa é um dos capítulos por concluir do plano do Kremlin, como o demonstra o contínuo bombardeamento de objectivos militares e económicos na região de Odessa, que é por onde Kiev ainda consegue exportar parte da sua gigantesca produção cerealífera.

E a ligação à Transnístria foi um dos tópicos em destaque nas narrativas mediáticas nos primeiros tempos deste conflito, tendo saído das primeiras páginas porque as forças do Kremlin não tiveram a mesma facilidade para entrar em Odessa que encontraram nas outras geografias do sul da Ucrânia.

Mas podem agora avançar sobre Odessa a partir da Transnístria, ou avançar ao mesmo tempo de ambos os lados.

Seja como for que suceda, o tema está agora de volta aos destaques da imprensa internacional ocidental depois do pedido da sua população para que a Federação Russa intervenha, o que, na verdade, já faz há décadas, desde o fim da ex-URSS, porque Moscovo mantém cerca de 2.000 soldados no território.

Além desta força destacada, no território está ainda um famoso, pelo menos assim foi visto durante meses pelos media ocidentais, arsenal militar russo, com milhões de munições e centenas de peças de artilharia, misseis e sistemas de defesa antiaérea.

Nos media russos, especialmente nos analistas de inclinação pró-russa nas redes sociais e nos canais do YouTube, uma das razões notadas para a intenção de Chisinau tomar as rédeas do poder desta "sua" província secessionista é poder aceder a este vasto arsenal militar de apoio à força de Moscovo presente no território.

E isso tem como objectivo, alegam, ajudar a União Europeia e os países ocidentais aliados de Kiev a fornecer armas e munições, mesmo que de origem russa, e de calibres distintos do armamento da NATO, à Ucrânia.

Sendo do conhecimento consolidado que as forças militares ucranianas estão a soçobrar na frente de guerra por falta de munições e armas, além da escassez de meios humanos para preencher as trincheiras, o arsenal russo da Transnístria seria uma ajuda substancial.

E o seu controlo, que chegou a ser equacionado como objectivo militar de Kiev no início de 2023, o que obrigaria à invasão do território, não apresentaria grandes dificuldades porque a Rússia tem ali menos de uma brigada, não chegando aos 2.000 soldados.

Se o Exército moldavo avançar mesmo, como teme a população russófona da Transnístria, só a chegada de reforços enviados por Moscovo poderá evitar o sucesso da empreitada militar de Chisinau.

Vai Moscovo enviar esses reforços ou esperar para ver como a crise evolui no terreno? Uma possibilidade para se saber o que pensa Vladimir Putin pode ficar a saber-se já na manhã desta quinta-feira, 29, no previsto discurso à Nação.

Para já, e como seria de esperar, tanto na Europa Ocidental como nos Estados Unidos, repetem-se as manifestações de apoio a Chi?inau, com o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, a garantir que Washington apoia a integridade territorial da Moldávia.

Este responsável disse ainda esta manhã que os EUA estão preocupados com o que se passa neste território e no que pode suceder a seguir face à agressividade russa, garantindo que estão a seguir de muito perto o evoluir da situação.