Este é um dos cenários mais graves de pré-confronto militar envolvendo A Rússia e a Ucrânia, como o atesta o facto do Presidente ucraniano, Petró Poroshenko, ter optado por um pedido formal ao Parlamento para ser aprovada a instauração da Lei Marcial, uma situação que coloca a prioridade militar acima de todas as restantes decisões civis e que normalmente é aplicada em situação de clara emergência, como uma invasão ou uma catástrofe de grandes proporções.

Este avolumar das tensões entre Moscovo e Kiev tem como epicentro a ocupação russa da Crimeia e, agora, o ataque da marinha russa a três navios ucranianos, que acabaram por ser apreendidos pelas forças de Moscovo - a Rússia diz que estas embarcações invadiram as suas águas territoriais -, deixando vários militares da Ucrânia feridos.

Sobre este claro e perigoso aumento das tensões a leste, a NATO, bloco militar que agrega os EUA e os seus tradicionais aliados ocidentais, veio publicamente exigir contenção à Rússia mas Moscovo garante que se tratou de uma resposta legítima à invasão das suas águas territoriais por uma frota de navios de guerra ucranianos.

Ao mesmo tempo, a NATO, que garante estar a acompanhar a situação "de forma muito atenta", pediu a Moscovo para permitir a circulação no Mar de Azov, espaço marítimo inserido nas águas territoriais russas, sublinhando que mantém uma linha aberta em permanência com as autoridades ucranianas para seguir o decurso dos acontecimentos.

Acontecimentos esses que assumem uma dimensão ainda maior porquanto deles consta o encerramento do trânsito de embarcações pelo Estreito de Kertch, uma faixa exígua que permite a ligação entre o Mar de Azov e o Mar Negro.

O apelo da NATO é que as duas partes se empenhem em reduzir as tensões, mas fazendo questão de afirmar, como o disse o porta-voz da organização militar atlântica, Oana Lungescu, que "apoia de forma clara" a soberania ucraniana e a sua unidade territorial bem como o direito deste país a utilizar como entender as suas águas territoriais.

O problema desta afirmação é que as águas territoriais a que se refere a NATO englobam as que envolvem a Crimeia, território anexado pela Rússia e nas quais Moscovo passou, desde 2014, a mandar e a afirmar tratar-se de território seu.

Se a Rússia mantiver o bloqueio, a Ucrânia deixa de ter acesso aos seus portos no Mar de Azov pelo Estreito de Kertch. A Lei Marcial pedido pelo Presidente Poroshenko tem como objectivo reagir a este bloqueio e a dar um sinal claro de que haverá uma reacção militar.

Isso mesmo é também admitido pela NATO quando o seu porta-voz diz que esta situação deixa em aberto uma ameaça clara por parte da Rússia a independência da Ucrânia e desestabiliza de forma grave a região.

Para analisar esta inusitada aceleração das tensões entre Kiev e Moscovo, foi convocada uma reunião de emergência do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas, em Nova Iorque, que terá lugar esta tarde - cerca das 15:00 em Angola -, com Rússia e Ucrânia a reivindicarem a iniciativa para marcar esta reunião.

Os conselheiros vão, no entanto, para esta sessão do CS sabendo de antemão que nada será decidido, apenas discutido, porque a Rússia e os EUA (aliados de Kiev) possuem direito de veto de quaisquer propostas de resolução que sejam apresentadas.