O Presidente da Venezuela Nicolás Maduro, apelou às Forças Armadas Bolivarianas (FAB) para que mantenham "lealdade absoluta" ao seu Governo, depois de um grupo de militares venezuelanos apoiarem uma tentativa de golpe do líder opositor Juan Guaidó.
"Chamo as FAB a unirem-se cada vez mais ao povo e à lealdade absoluta e a ter presente o provérbio do coração, que diz: leia sempre, traidores nunca. Junto do povo, sempre. Junto da Constituição", disse.
O apelo foi feito, na terça-feira, durante um discurso ao país, transmitido em simultâneo, de forma obrigatória, pelas rádios e televisões venezuelanas, desde o palácio presidencial de Miraflores, em Caracas.
O líder venezuelano desmentiu ainda quaisquer intenções de abandonar o poder e refugiar-se em Cuba, como avançou o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
"Dizia Mike Pompeo que eu, Maduro, tinha um avião ligado, para ir para Cuba, para fugir e que os russos me fizeram descer do avião proibiram-me abandonar o país. Senhor Pompeo, por favor, que falta de seriedade", acusou.
Segundo Nicolás Maduro, uma "intervenção militar, o golpismo, um confronto armado não são o caminho para a Venezuela. Os venezuelanos têm de resolver as diferenças em paz, respeito mútuo, sob a premissa da liberdade constitucional" que desfrutam.
"A nossa causa é enfrentar, todos os dias, os problemas que o nosso povo tem, produto das sanções e das agressões imperialistas. A nossa causa é a causa de Bolívar, não a de Monroe", frisou.
Por outro lado, acusou a oposição o fundador do partido opositor Vontade Popular ,Leopoldo López, de estar a promover violência no país e ordenou ao ministro de Comunicação, que divulgue, nos próximos dias, "as provas da tentativa golpista" de terça-feira.
"Devemos mostrar toda a verdade da acção armada e violenta", disse o Chefe de Estado que garantiu que a base aérea militar de La Carlota nunca foi "tomada" pelos militares "traidores".
"80% dos profissionais militares e policiais que foram convocados ao Distribuidor Altamira (junto da base aérea), foram enganados. Disseram-lhes que iriam fazer uma operação na prisão de Tocorón (estado de Arágua, 100 quilómetros a oeste de Caracas)", justificou.
O primeiro mandatário venezuelano frisou ainda que ao longo de 2019 tem derrotado "ameaças, agressões, sanções, com moral, vontade e amor profundo" pela história dos venezuelanos.
Por outro lado, anunciou que foram nomeados três procuradores para investigar "as acusações criminosas", perante tribunais, dos que participaram no chamamento à rebelião.
O autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, desencadeou na madrugada de terça-um ato de força contra o regime de Nicolás Maduro em que envolveu militares e para o qual apelou à adesão popular.
O regime ripostou considerando que estava em curso uma tentativa de golpe de Estado. Não houve, durante o dia, progressos na situação, que continua dominada pelo regime.
ONG regista um morto e pelo menos 95 feridos nos protestos
Uma organização-não governamental (ONG) venezuelana disse que uma pessoa morreu e pelo menos 95 ficaram feridas durante os protestos registados na terça-feira na Venezuela depois da acção de força desencadeada pelo autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó.
De acordo com a ONG Provea, um homem de 24 anos morreu durante os protestos no estado de Aragua.
Dos 95 feridos, 26 foram registados naquele estado e 69 no município de Chacao, em Caracas, mas a Provia disse acreditar que pode haver mais feridos um pouco por todo o país.
"Lamentamos o assassinato do jovem Samuel Enrique Mendez, de 24 anos, no estado de Aragua, durante os protestos. Testemunhas culpam os grupos paramilitares (...)", escreveu a ONG na sua página da rede social Twitter, acrescentando que, com esta morte, já foram registados 53 mortos desde o início do ano durante os protestos contra o regime venezuelano.
Segundo a Provea "80% das mortes são de responsabilidade da polícia, militares e paramilitares".
Pressão é para continuar, diz Juan Guaidó
O autoproclamado Presidente interino publicou uma mensagem nas suas redes sociais onde acentua que o dia de terça-feira mostrou que o regime de Maduro não tem força e que a fase final da "Operação Liberdade" é para continuar.
"Este regime é uma farsa. Maduro não tem o apoio nem o respeito das Forças Armadas e muito menos do povo da Venezuela", afirmou Guaidó numa sala, cuja localização não é conhecida.
"Hoje, em Caracas, os militares estiveram com o povo da Venezuela", disse Guaidó, no final do dia de ontem, acrescentando que a "a pressão é para continuar".
"Amanhã, no 1º de maio, continuaremos nas ruas. Esse é o nosso território", promete Guaidó. "Amanhã, toda a Venezuela nas ruas", pediu no final da mensagem.
Leopoldo López está na embaixada espanhola
Leopoldo López, que cumpria uma pena de cerca de 14 anos em regime de prisão domiciliária, foi libertado ontem e está agora na embaixada de Espanha, em Caracas. A confirmação foi dada à imprensa espanhola pelo próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha.
Ontem, ao final da noite, já corria a notícia de que Leopoldo López se tinha refugiado juntamente com a família noutra embaixada - na do Chile.
A decisão foi anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Chile, Robert Ampuero, que escreveu no Twitter que "Lilian Tintori e Leopoldo López - de ascendência espanhola - trasladaram-se para a embaixada de Espanha. Trata-se de uma decisão pessoal, uma vez que a nossa embaixada já tinha hóspedes".
Leopoldo López está também acompanhado da sua mulher, Lilian Tintori.
Alguns utilizadores indicaram, ao longo do dia, que perderam o acesso a redes sociais (como o Twitter, o YouTube ou o Facebook), enquanto as comunicações telefónicas estiveram muitas vezes interrompidas.
Já durante a noite, Juan Guaidó, insistiu que o Chefe de Estado, Nicolás Maduro, não tem "o apoio nem o respeito" das Forças Armadas e apelou aos venezuelanos para voltarem às ruas para uma "rebelião pacífica"
"Maduro não tem o apoio, nem o respeito das Forças Armadas. Muito menos do povo da Venezuela, porque não protege ninguém, porque não oferece resultados nem soluções", disse Guaidó num vídeo divulgado através do Twitter.