Depois de dirigentes do seu partido terem admitido essa possibilidade ao longo dos últimos meses, sempre na condição de esse ser o caminho para levar o MPLA para fora do poder, Isaías Samakuva vem agora consolidar essa possibilidade em declarações à Reuters.
Essa solução, levando em linha de conta as declarações dos dirigentes da UNITA, e também do líder da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, que também não descarta tal possibilidade, teria como plataforma impulsionadora um resultado eleitoral em que nenhum dos partidos concorrentes venha a conseguir mais de 50 por cento dos votos no dia 23 de Agosto.
Os argumentos utilizados para abrir o caminho a esta novidade no panorama político angolano são, tanto por parte da UNITA como da CASA-CE, os dois partidos da oposição que almejam o poder, a par do MPLA, cujo fito está colocado na repetição da maioria absoluta, a exigência de mudança face às dificuldades que o país atravessa e a sublinhada "incapacidade" do MPLA para emergir agora com soluções.
"Precisamos de ter uma oposição capaz de parar os actos que constituem abuso de poder", disse Samakuva, numa clara referência à governação do MPLA e à sua inequívoca maioria parlamentar, deixando ainda em evidência que o seu partido não vê qualquer dificuldade em abraçar uma coligação como solução para ultrapassar os problemas do país.
Esta postura de Samakuva deixa perceber que a UNITA tem uma porta aberta para uma coligação com o partido agora liderado pelo seu anterior militante Abel Chivukuvuku,, a CASA-CE.
Mas há uma nuance que distingue Abel de Isaías.
O primeiro coloca como melhor possibilidade uma coligação coma UNITA mas não descarta totalmente a possibilidade de governar em junção de forças com o MPLA, enquanto o segundo não coloca outra alternativa que não seja coligar-se com os partidos da oposição, deixando de parte uma eventual coligação com o MPLA.
Por sua vez, o MPLA nunca abordou tal possibilidade, mantendo como tónica inequívoca a vitória eleitoral por margem alargada e sem deixar dúvidas.
Estas são as 4ªs eleições por voto directo e universal desde que Angola optou pelo multipartidarismo em 1991.
As eleições gerais de 23 de Agosto contam com seis forças políticas a disputar os 220 lugares no Parlamento e ainda a eleição do Presidente da República e do Vice-presidente, que são, respectivamente, o primeiro e o segundo nome das listas apresentadas pelo círculo nacional.
Vão estar na disputa pelos votos dos 9,3 milhões de eleitores, conforme o sorteio que ditou a disposição no boletim de voto, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que propõe Isaías Samakuva para Presidente da República, a Aliança Patriótica Nacional (APN), cujo cabeça de lista é Quintino Moreira, o Partido da Renovação Social, cuja aposta para a Presidência é Benedito Daniel, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que tem João Lourenço para substituir José Eduardo dos Santos na Cidade Alta, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com Lucas Ngonda a liderar a lista; e a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), que apresenta Abel Chivukuvuku para Chefe de Estado.
O círculo nacional elege 130 deputados e os círculos das 18 províncias elegem 90, cinco deputados por cada uma delas, contando a Comissão Nacional Eleitoral com 12 512 Assembleias de Voto reunindo um total de 25 873 Mesas de Voto.