Pelo meio, o "ponta de lança" da equipa do Presidente Joe Biden para lidar com as situações mais complexas, basta ver que Blinken tem em mãos, além da disputa de África com a China e a Rússia, também as crises no Médio Oriente e na Ucrânia, elogiou a democracia cabo-verdiana e o lugar deste pequeno país-arquipélago da África Ocidental entre as prioridades dos EUA no conjunto das suas parcerias atlânticas.
Viajando já esta segunda-feira para a Costa do Marfim, Blinken viu-se confrontado com o seu primeiro desafio para o qual dificilmente existe solução. Foi-lhe, na sua visita ao Estádio Olímpico, em Abidjan,oferecida uma camisola da equipa costa-marfinense com o seu nome, mesmo sabendo-se já que o chefe da diplomacia norte-americana é "fã" de Cabo Verde.
As imagens não mostram se Blinken vestiu a camisola dos "Elefantes", mas não deixou por marcar os golos que queria, ao elogiar a grande capacidade costa-marfinense para organizar esta competição pan-africana e sublinhar a importância do país para consolidar os objectivos de Washington, que são, claramente, colocar os EUA como um parceiro-chave do maior número possível de países para o desenvolvimento económico e a segurança do continente em tempos de múltiplas crises internacionais.
Com a Nigéria e Angola ainda no seu caminho até à próxima sexta-feira, dois gigantes do continente, que também já estão apurados para os "oitavos" do CAN, além de escapar à sua condição de apoiante declarado de Cabo Verde nesta que é a maior competição desportiva em África, Blinken tem ainda de demonstrar de forma clara que os EUA estão determinados em ser os parceiros e aliados de que Abuja e Luanda precisam para alicerçar o seu desenvolvimento, garantindo vantagens evidentes face aos "adversários" em campo, a China e a Rússia.
Ainda na Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, no encontro com o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva, Blinken aproveitou para falar para o continente, afirmando que os EUA querem ser "os aliados-chave do continente africano" para a economia e a segurança, sem deixar de se focar ainda no comércio e na defesa do Estado de Direito, nos Direitos Humanos e na democracia.
"Queremos aprofundar, estreitar e alargar a nossa parceria com África, onde estamos sem rodeios e totalmente dedicados", afirmou em Cabo Verde, contrariando aquilo que alguns media, como a norte-americana Associated Press, notam como sendo um claro desvio das atenções da Administração Biden de África para as crises na Ucrânia e no Médio Oriente, apesar do continente ter chegado a estar no topo das prioridades de Joe Biden, que chegou mesmo a anunciar que visitaria o continente durante o ano de 2023.
Antony Blinken foi ainda mais longe neste desenrolar das suas prioridades, que é inundar o terreno africano com "a marca" americana, de forma a que chineses e russos não tenham dúvidas de que, ao contrário de Obama e Trump, com Biden, os EUA estão para ficar: "Nós vemos África com uma parte crítica, essencial e central do nosso futuro. Esta visita está focada no compromisso e convicção do Presidente Biden de que os EUA e África estão unidos para o futuro" e não apenas circunstancialmente, porque, como muitos analistas afirmam, a disputa global com a China e a Rússia por uma nova ordem mundial a isso obriga.
E este "jogo" continua já na quarta-feira na Nigéria, um dos "jogadores" mais relevantes de Washington nesta dura partida africana do campeonato mundial da influência, não apenas por ser o país mais populoso, o maior produtor de crude e um dos mais antigos aliados do ocidente nesta geografia, mas porque a Nigéria está a atravessar uma das mais graves crises de sempre e este é o momento em que Abuja mais espera actos de Washington para ajudar a ultrapassar os problemas.
Não muito diferente é o "terreno de jogo" que Biden vai encontrar em Luanda, o mais novo dos aliados de Washington na região, cujo peso, além de que Angola é uma potência militar e económica na África Austral, é simbolicamente dos mais relevantes no que está em disputa na visão de Washington: Angola está a mudar de... campo.
E Blinken sabe que esta mudança de campo não é incondicional. E sabe também que, tal como a Nigéria, Angola atravessa uma severa crise económica e que os aliados são para as ocasiões.
Também cairia bem a solidariedade com os objectivos das "palancas negras" no CAN, mas isso já não vai a tempo, porque Washington está na bancada a apoiar os "tubarões azuis"...