A Plataforma 27 de Maio, que congrega um conjunto de organizações não-governamentais, nomeadamente a Associação 27 de Maio, Associação M-27 e Grupo de Sobreviventes, acusa o Governo de tentar "passar uma esponja sobre os massacres que vitimaram milhares de angolanos", afirmando que a "verdadeira homenagem que as vítimas merecem deveria começar com um pedido de perdão público do Presidente da República e dirigente máximo do MPLA, pelos crimes praticados pelo regime naquele período, seguindo o exemplo do Papa Francisco, que pediu perdão pela passividade da Igreja Católica perante o genocídio no Ruanda".

"No caso de Angola, não houve passividade mas autoria nos massacres", afirma a plataforma no comunicado chegado à redação do Novo jornal.

Para a Plataforma 27 de Maio, uma "homenagem credível" terá necessariamente de passar "pela procura da verdade histórica".

O Governo preparou um programa de Homenagem às Vítimas dos Conflitos Políticos em que estão previstos dois momentos no dia 27 de Maio: o primeiro no cemitério de Santa Ana e o segundo na Praça da Independência.

De acordo com a Lusa, no cemitério de Santa Ana vai proceder-se à deposição de uma coroa de flores, um minuto de silêncio e um culto em memória das vítimas, rumando os participantes, trajados de camisolas brancas e bonés com o símbolo "Abraçar e Perdoar", para o segundo momento da cerimónia.

"Na Praça da Independência, vai ser também depositada uma coroa de flores, verificado um minuto de silêncio em memória das vítimas dos conflitos políticos, entoado o hino da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) e a entrega de dois certificados de óbito a duas órfãs, que farão uma intervenção".

De acordo com a Lusa, o programa prevê também intervenções de um ex-membro das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) do 27 de Maio, do representante da Fundação 27 de Maio e do coordenador da CIVICOP, Francisco Queiroz, também ministro da Justiça e dos Direitos Humanos.

A Plataforma 27 de Maio, que não vai estar presente na cerimónia, suspendeu, em Março deste ano, a sua participação nos trabalhos da CIVICOP, por não verem respondidos os pedidos apresentados pelos representantes das vítimas.

Numa nota, o grupo referiu que o Governo e o MPLA, que têm uma posição de domínio na CIVICOP, "longe de procurarem um caminho de verdadeira reconciliação nacional, optaram pela recusa da verdade histórica e pela construção de propaganda a seu favor, para branquear a imagem, não estando interessados em apreciar sequer os pedidos que foram apresentados pelos representantes das vítimas".

A Plataforma 27 de Maio mantém como requisitos "que seja definido como objectivo a identificação dos responsáveis pelos crimes cometidos, única forma de se saber a quem se perdoa, precedido de um pedido de perdão; Que os agentes da repressão que praticaram crimes deixem de ser considerados "vítimas", pois, a obediência a ordens ilícitas e violadoras dos Direitos Humanos não constitui, causa de justificação do crime praticado; Que se defina como objetivo central da Comissão de Averiguação e Certificação dos Óbitos, a localização dos restos mortais das vítimas, a sua certificação pelo teste de ADN, a emissão das respectivas certidões de óbito, onde conste a data e causa da morte e, por fim, a sua devolução às famílias."