"Depois da assinatura dos acordos de paz em 2002, hoje assinala-se em Angola o dia da Paz dos Espíritos, com lançamento do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos em Angola", disse o ministro Francisco Queiroz quando discursava na cerimónia do lançamento desta iniciativa que visa todos os conflitos de natureza política, desde a guerra civil que começou em 1975, passando pelo 27 de Maio de 1977 - o denominado golpe fraccionista de Nito Alves contra o Presidente Agostinho Neto - , até ao dia em que a guerra acabou, em 2002.

Este Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos em Angola, sublinhou o ministro, é o compromisso do Governo com o fim do sofrimento dos angolanos gerado pelos conflitos que no passado colocaram angolanos contra angolanos e que terá o seu ponto alto com a consrução de um monumento a todas as vítimas.

"Todos temos um papel a desempenhar para o bem deste processo. A partir de hoje, repudiamos todas as formas de vingança e vamos exaltar a amizade e a fraternidade", referiu Francisco Queiroz.

O ministro da Justiça e Direitos Humanos apelou aos partidos políticos para não se envolverem em actos de intolerância política como forma de honrar este compromisso hoje firmado.

"O Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos em Angola é a nossa ferramenta para erguermos o nosso edifício que se chama Angola", defendeu.

"Tal como o dia 4 de abril de 2002 ficou para sempre inscrito na história de Angola como o Dia da Paz das armas, o dia de hoje ficará na história como dia do início da paz dos espíritos", disse o ministro.

Este plano tem como objectivo criar uma plataforma de abordagem dos pendentes de um passado doloroso que possam perigar a reconciliação, a harmonia nacional e a reconstrução da nação, combatendo os factores que possam enfraquecer as bases da paz e desenvolvimento humano sustentável.

"Hoje, lançamos a primeira pedra do perdão. Lançamos o abraço nacional entre angolanos", explicou Francisco Queiroz, anunciando que o Executivo vai construir um memorial das vítimas para consolidar este compromisso.

Visa, como afirmava o ministro em Março deste ano, quando anunciou este processo, anda dar tratamento às famílias e pessoas que sofreram os males resultantes de episódios de violência física ou espiritual.

Recorda-se que o Presidente República anunciou, no princípio deste ano, a criação de uma comissão para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 a 04 de Abril de 2002.

João Lourenço justifica a decisão como um imperativo político e cívico do Estado para prestar condigna homenagem à memória de todos os cidadãos que tenham sido vítimas de actos de violência, resultantes dos conflitos políticos.

A maioria dos analistas coincidiu na percepção de que esta iniciativa é, essencialmente, uma tentativa de abordar de forma oficial a tragédia do 27 de Maio de 1997, um conflito de natureza política que ainda hoje permanece latente na sociedade angolana devido aos milhares de vítimas que criou.

Além do ministro da Justiça e Direitos Humanos, a comissão integra também representantes da Casa Civil e da Casa de Segurança do Presidente da República, e dos Ministérios da Defesa Nacional, dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria e da Comunicação Social.

UNITA lamenta fraca adesão

O líder do grupo parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, lamentou a fraca aderência de pessoas na sala onde foi lançado o Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos em Angola, tendo manifestado a sua preocupação com o cumprimento desta iniciativa do Presidente da República, João Lourenço.

"Este processo não será fácil, porque nota-se pouca vontade das pessoas. Um acontecimento como este não devia ter tão pouca gente na sala", acrescentou, salientando que o Estado não tem sido capaz de consolidar a reconciliação nacional.

Adalberto da Costa Júnior referiu que o Executivo não pode olhar a questão da reconciliação nacional como uma história do passado.

"A guerra civil no país terminou em 2002, mas o processo de paz e reconciliação nacional ainda é um longo caminho. Por isso, o Governo, os partidos políticos, a sociedade civil e as igrejas têm que estar envolvidos neste processo", referiu.

O presidente do grupo parlamentar da CASA-CE, Alexandre Sebastião André, referiu que Angola viveu durante muitos anos uma guerra fratricida que assolou grande parte da população, causou graves problemas sociais e familiares deixando muitas sequelas na vida dos angolanos.

"Daí a necessidade de assumimos a responsabilidade para a reconciliação nacional entre os angolanos de Cabinda ao Cunene", adiantou, dizendo que depois da paz as coisas têm que mudar para o bem.

Manuel Inácio, da Fundação 27 de Maio, louva a iniciativa do Governo angolano, que pondera pagar reparações às vítimas dos acontecimentos à volta do 27 de Maio de 1977.