Segundo um documento publicado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (UNOCHA), dos 42 milhões de pessoas em risco de fome ou de insegurança alimentar na SADC, 26 milhões estão em áreas rurais onde o problema já ocorre devido à prolongada seca - é igualmente o caso do sul de Angola -, a inundações, conflitos ou crises económicas não relacionadas com a Covid-19, enquanto 16 milhões estão nessa condições directamente relacionada com a pandemia do novo coronavírus, a maior parte, 13 milhões, em áreas urbanas.
No entanto, o PAM alerta para a situação nas áreas urbanas porque enquanto no mundo rural as colheitas que estão em curso ou se avizinham poderão reduzir as situações de forme e de insegurança alimentar, nas áreas urbanas o confinamento generalizado por causa da Covid-19, bem como outro tipo de restrições, o problema tende a agudizar-se porque vai demorar a normalizar o fluxo de bens alimentares das zonas rurais para os mercados existentes nas cidades, especialmente nas grandes cidades, onde estão concentradas a maior parte das populações destes países.
As restrições à mobilidade nas áreas urbanas para conter a expansão da pandemia teve ainda um efeito importante na redução da capacidade de aquisição de alimentos por parte de milhões de pessoas que vivem no vasto universo da economia informal em África.
O PAM alerta ainda para a possibilidade admitida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de que o pico da pandemia na África Austral ocorra entre Julho e Setembro e para o facto de vários Governos na região estarem já a debater-se com problemas sérios de resposta às necessidades urgentes de fornecer alimentos a um cada vez maior número de pessoas nas zonas urbanas, embora Angola não esteja na lista dos países onde este problema é mais saliente.
Na linha da frente do problema da insegurança alimentar e fome nas áreas urbanas estão o Zimbabué, a Zâmbia, Madagáscar, Moçambique, Malawi, Lesoto e a República Democrática do Congo.
Por detrás destas dificuldades crescentes estão também questões relacionadas com as excessivas dívidas e défices fiscais, a depreciação das moedas nacionais e escasso investimento em infra-estruturas sociais na região.
O PAM sublinha que, a par dos já conhecidos problemas de fome e insegurança alimentar nas zonas de risco para seca e inundações, campos de deslocados e refugiados, há agora um agudizar sério dos problemas de insuficiência alimentar, "abrangendo milhões de pessoas", em "larga escala" nas áreas urbanas exigindo a criação de novos sistemas de logística para socorrer estas pessoas.
E é por isso que esta agência das Nações Unidas coloca como fundamental o "fortalecimento dos sistemas de protecção social" dos países inseridos nesta mapa de problemas austrais, porque essa é a forma de resposta mais célere para um problema que não tem parado de aumentar nos últimos meses.
Um dos problemas mais enfatizado é o das crianças que, devido aos confinamentos generalizados, em muitos destes países, as escolas estiveram encerradas impedindo os alunos de acederem às refeições que o PAM fornece diariamente em circunstâncias normais., somando quase 3 milhões de crianças nos primeiros anos escolares, entre o pré-primário e o ensino primário.