A deslocação de uma comitiva angolana às Ilhas Maurícias acontece cerca de 15 dias depois de surgirem as primeiras notícias sobre dezenas de contas bancárias congeladas no arquipélago, por suspeitas de desvio de verbas do FSDEA.
Segundo o portal do grupo Défi Media, os responsáveis angolanos "poderão assumir o controlo das actividades da Quantum Global, em vez de repatriar o dinheiro para Luanda".
Em causa está a gestão de 3 mil milhões de dólares do Fundo Soberano pela Quantum Global, verba que foi aplicada em sete fundos de investimento nas Ilhas Maurícias.
Apesar de as operações financeiras terem sido efectuadas em nome do Estado angolano, vários documentos expostos no âmbito do escândalo dos Paradise Papers, sugerem que, na realidade, tinham como principal beneficiário Jean-Claude Bastos de Morais.
De acordo com esses papéis, citados em Novembro passado pelo jornal Le Dimanche, vários projectos do FSDEA geridos pela Quantum representaram negócios para empresas de Bastos de Morais.
Por exemplo, o FSDEA financia em 180 milhões de dólares o projecto de mais de 800 milhões de dólares para construção do Porto de Caio, em Cabinda, cuja empresa concessionária - Caioporto SA - é detida maioritariamente pelo empresário suíço-angolano.
O Fundo também aprovou 157 milhões de dólares para a edificação de uma torre futurista no centro de Luanda, num terreno que pertence a uma empresa de Bastos de Morais.
Para além de o Estado angolano ter assinado um contrato com essa firma do empresário, uma segunda empresa do suíço-angolano ficou com a direcção do projecto e execução de uma parte da torre destinada a alojar escritórios.
Gestão de Zénu marcada por falta de transparência
As desconfianças sobre a forma como o Fundo estava a ser gerido durante a presidência de José Filomeno dos Santos, "Zénu", foram confirmadas numa auditoria recente, na qual o Ministério das Finanças (MINFIN) concluiu que a "falta de transparência" reinava na instituição.
O "veredicto", segundo explicou o MINFIN, resultou de uma "avaliação rigorosa", feita com o apoio de uma consultora internacional, "sobre a gestão, alocação dos activos e estrutura de governação corporativa" do FSDEA.
Terá sido no âmbito deste escrutínio que as autoridades angolanas contactaram as homólogas mauricianas, que nas duas últimas semanas congelaram 91 contas bancárias em nome de Bastos de Morais e da Quantum Global, e suspenderam as suas licenças de investimento.
O "cerco" é contestado pelo empresário suíço-angolano, que rejeita as acusações de apropriação indevida de dinheiros públicos angolanos e lamenta que as autoridades mauricianas não tenham esclarecido os fundamentos das medidas aplicadas.
Para além de já ter exigido explicações na justiça, Bastos de Morais tem alertado para o impacto da decisão para os negócios da Quantum Global e para as vidas de milhares de famílias africanas, privadas dos salários que deveriam ser pagos através das contas entretanto bloqueadas.