A notícia é da CNN, que cita fontes ligadas ao contexto da guerra no leste europeu para avançar que, em Kiev, as chefias militares sentiram a necessidade de mudar os seus planos para a frente de batalha depois de na semana passada, na quinta e na sexta-feira, terem sido divulgados nas redes sociais Twitter e Telegram mapas, dados e análises às condições operacionais das forças ucranianas, além de informação melindrosa sobre a actividade de espionagem sobre os aliados dos EUA, incluindo o próprio Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Ainda não se sabe quem é que protagonizou esta fuga de informação que está a criar dúvidas na capacidade das secretas norte-americanas em protegerem informação estratégica importante, embora o dedo esteja já a ser apontada à Rússia pelos comentadores ocidentais de serviço, mas já se sabe que os dados reputacionais para a Administração Biden são avultados e podem mesmo ser um desastre se a fuga for, como vários analistas suspeitam, bem mais vasta que aquilo que foi divulgado.
A dúvida está alicerçada no facto de os documentos revelados em dois dias seguidos, como pode revisitar nas notícias publicadas pelo Novo Jornal aqui e aqui, serem datados a finais de Fevereiro e início de Março, o que, embora relevante num olhar geral à situação na frente e às capacidades militares ucranianas, a verdade é que quase um mês e meio depois muito pode ter mudado no terreno e não se sabe se os autores da fuga têm ou não mais documentos que aqueles que partilharam nas redes sociais.
Segundo a CNN International, que cita fontes próximas do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, as chefias militares em Kiev foram obrigadas a alterar alguns dos planos existentes para os próximos tempos, nomeadamente a contra-ofensiva já anunciada pela Ucrânia, que assenta essencialmente no material de guerra entregue pelos países da NATO, especialmente os carros de combate pesados britânicos e alemães, e os aviões de guerra MIG-29, de fabrico soviético, pela Polónia, além das volumosas quantidades de munições para artilharia pesada, como os norte-americanos HIMARS.
Um dos riscos mais severos neste tipo de fuga é que os autores do "furto" estejam na posse de muito mais informação... se não se tratar de uma manobra de deceção militar, procurando gerar no inimigo uma realidade ficcionada para o enredar num logro táctico, o que seria o caso se tivessem sido os próprios norte-americanos a divulgar os documentos com factos verosimilhantes mas deturpados.
Para já, uma consequência desta fuga pode ser desastrosa para a moral ucraniana, visto que se a informação for correcta, ao contrário do que tem sido repetido à exaustão pelos ucranianos, o número de militares mortos é muitíssimo mais devastador para Kiev que para Moscovo, deixando ainda em evidência que tanto os serviços secretos ucranianos como os britânicos ou os norte-americanos têm estado a mentir desbragadamente, especialmente quando dizem que o lado russo já perdeu perto de 200 mil militares.
Isto, porque, segundo estes documentos, enquanto a Rússia perdeu desde o início do conflito, pouco mais de 16 mil homens, a Ucrânia já conta mais de 70 mil mortos em combate, o que, se a informação chegar às unidades ucranianas na linha da frente, pode ter um efeito devastador na moral das tropas...
Porém, do lado ucraniano, Mikhail Podoliak, o principal assessor de Zelensky e o maior defensor publicamente da continuação da guerra até ao último soldado ucraniano ou até que o último soldado russo tenha saído das cinco regiões anexadas - Crimeia, Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporijia - já veio dizer que se trata de "notícias falsas feitas com phtoshop", embora esta versão contraste com o melindre gerado no Pentágono, que anunciou apenas estar a investigar a fuga enquanto os políticos da Administração Biden, citados pelo New York Times, mais cautelosos, admitem que se possa tratar de documentos verdadeiros adulterados no seu conteúdo.
Nova revelação bombástica
Porém, agora, ainda segundo a CNN International, esta fuga pode ser ainda mais dramática, porque uma abordagem mais técnica aos documentos permitiu apurar que neles está contida informação fidedigna que aponta para um défice alarmante de capacidade ucraniana para atacar as forças russas, especialmente em artilharia de longo alcance...
Soube-se ainda que estes documentos já tinham sido divulgados em finais de Fevereiro, na plataforma chat online Discord, mas sem que tivesse sido dado o alarme que merecia, facto que aconteceu agora com a sua colocação nos mais expostos Twitter e Telegram (a rede social russa mais conhecida).
Do lado russo, este episódio não mereceu grandes comentários e os media russos têm dado a notícia com pouco entusiasmo, limitando-se a citar outros media, especialmente norte-americanos, o que denota algum desconforto do lado de Moscovo com esta exposição, tal como do lado norte-americano, que, segundo noticiado nas últimas horas, são várias agências que estão a investigar o que se passou.