Sergei Lavrov, citado pelo site do canal de televisão russo RT, diz que os Estados Unidos e os seus aliados europeus mostram um "total desrespeito" pela opinião dos membros do bloco onde estão as cinco potências globais, ao qual aderiram este ano mais seis, incluindo o Egipto e a Arábia Saudita, sobre formas de resolver o problema apresentadas pela China, Brasil e África do Sul.

O último local onde tal ocorreu, apontou Lavrov, foi no Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, onde esteve em cima da mesa a proposta, que o Kremlin considera "absurda", do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, onde este propõe a saída total e incondicional dos russos de todos os territórios ucranianos reconhecidos desde a independência da então URSS em 1991, o que inclui a Crimeia e as regiões de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia, todas anexadas e integradas na Federação Russa entre 2014 e 2022.

O chefe da diplomacia russa lamenta que nenhuma das observações feitas pelos três países, China, Brasil e África do Sul, tenham merecido qualquer atenção por parte dos EUA e dos seus aliados que apoiam Kiev na guerra com Moscovo.

Segundo Lavrov, entre os 83 países que estiveram presentes em Davos, há duas semanas, para discutir a "fórmula da paz" de Zelensky, que até no ocidente se considera ser já irrealizável, na sua vez de falar, embora nesta vez a China tenha ficado de fora, nenhum dos membros dos BRICS foi considerado nas suas propostas, sendo isso um uma "inqualificável falta de respeito".

Em questão estão propostas como a chinesa, de congelar o conflito e dirimir as questões que sustentam esta guerra, havendo ainda propostas africanas, do Brasil e da Arábia Saudita que não estão na lista reconhecida pelo ocidente como merecedoras de análise alargada.

"Eu perguntei a estes países se as suas palavras mereceram alguma atenção dos aliados dos EUA e a resposta foi que não, nenhuma atenção", contou Sergei Lavrov, lamentando que europeus e norte-americanos só consideram como solução uma proposta do Presidente Zelensky que é, para Moscovo, descabida de qualquer razoabilidade.

O plano de Zelensky, apresentado em 2022, exige a saída dos russos de todos os territórios ucranianos sem condições, quer que Moscovo pague as despesas da reconstrução da Ucrânia, e, entre outras demanadas, que os dirigentes russos sejam apresentados à justiça internacional.

Kremlin vê NATO como ameaça e instrumento de confrontação (Lusa)

A Rússia insistiu hoje que a NATO é uma ameaça para Moscovo e um "instrumento de confrontação", numa altura em que a organização de defesa ocidental realiza o maior exercício militar desde a Guerra Fria

"É claro que [a NATO] é uma ameaça para nós", disse aos jornalistas o porta-voz da Presidência russa (Kremlin), Dmitri Peskov, assegurando que "estão constantemente a ser tomadas medidas adequadas" de resposta.

Peskov disse que durante décadas, a NATO "tem vindo a deslocar constantemente infra-estruturas" para as fronteiras russas, numa alusão do alargamento da organização ao Leste, um dos argumentos russos para a invasão da Ucrânia há quase dois anos.

"A NATO é um instrumento de confrontação", afirmou Peskov, citado pela Lusa a partir da agência francesa AFP.

A NATO, sigla do nome inglês da Organização do Tratado do Atlântico Norte, iniciou na semana passada a maior simulação de combate desde a dissolução da União Soviética, em 1991, que marcou o fim da Guerra Fria.

Denominado "Steadfast", o exercício começou no nordeste dos Estados Unidos e envolverá meios dos 31 países da NATO, bem como da Suécia, que aguarda a aprovação da Hungria para integrar a organização.

O exercício envolverá cerca de 90.000 soldados de ambos os lados do Atlântico.

Vai testar, entre outros objetivos, a capacidade da Aliança de mobilizar e transportar rapidamente tropas norte-americanas para "reforçar a defesa da Europa", segundo a NATO.

As manobras assumirão a forma de um cenário de conflito contra um "adversário de dimensão comparável", segundo a terminologia da Aliança, que se refere à Rússia sem a nomear.

Participarão no exercício cerca de 50 navios de guerra, 80 aviões e 1.100 veículos de combate.

As relações já difíceis entre a NATO e a Rússia tornaram-se extremamente tensas desde a ofensiva das tropas russas em solo ucraniano, em 24 de fevereiro de 2022.

Antes da invasão, Moscovo exigiu que a NATO se comprometesse, sob a forma de tratado, a não aceitar a adesão da Ucrânia e da Geórgia, bem como a recuar forças para as posições anteriores ao alargamento.

Em resposta à ofensiva russa, a Finlândia tornou-se o 31.º membro da Aliança em abril de 2023, enquanto a Suécia se aproximou da adesão nos últimos dias, após a "luz verde" da Turquia, aguardando a ratificação da Hungria.

Ucrânia, Geórgia e Bósnia-Herzegovina são países aspirantes à adesão.