Quando caminhava com o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, numa visita às unidades militares que participaram na destruição de um navio de guerra russo esta semana, Volodymyr Zelensky sentiu o chão mover-se - as imagens do local mostram o chão a tremer.
O chefe do regime ucraniano, como sempre faz quando os seus militares conseguem um feito notável, foi a Odessa, com Mitsotakis, condecorar os autores da proeza, mas, como referem os analistas do lado russo, estavam a ser acompanhados pelas equipas de vigilância russas.
Na tarde desta quarta-feira, 06, o Iskander M, o míssil balístico russo mais usado para atingir alvos a curtas e médias distâncias, até 400 kms, foi a arma perfeita para Moscovo conseguir dois objectivos, um assumido e o outro de tão evidente que nem valia a pena desmentir.
O objectivo assumido foi a destruição de um armazém de drones marítimos, do tipo dos usados para destruir o navio-patrulha Sergey Kotov, com uma concentração de militares afectos a esta unidade especial, o outro foi de natureza menos explosiva mas bem mais grave.
Como se diz em linguagem comum, os russos decidiram deixar um sério aviso à União Europeia, na pessoa do PM grego, e ao próprio Zelensky, quando o Iskander M, que carrega uma ogiva entre os 400 e os 700 kgs de explosivos, explodiu a escassas centenas de metros.
O chão tremeu, como é possível ver nos vídeos que entretanto chegaram às redes sociais, embora em nenhuma destas imagens se perceba a presença dos dois governantes, apenas o som de vozes alegadamente na comitiva que se deslocou a Odessa.
Tanto Mitsotakis como Zelensky ficaram a saber duas coisas, a primeira é que os russos só não os liquidaram porque não quiseram, e Zelensky que o podiam ter abatido sem a presença do governante grego mais cedo ou mais tarde em relação àquele momento, e a segunda é que apesar de serem considerados de grande precisão, por vezes os Iskader M também falham os alvos.
O chefe do Governo da Grécia admitiu que este foi um "momento muito intenso", descrevendo o que lhe sucedeu de seguido aos media internacionais que os acompanhavam, avançando que ouviu uma forte explosão e coisas abanar, sem terem tempo para procurar um abrigo.
"Não tivemos sequer tempo para procurar um abrigo, porque as sirenes começaram a soar quase ao mesmo tempo que o míssil explodiu muito perto de nós. Foi uma experiência muito intensa", explicou, adiantando que "se dúvidas houvesse sobre o que se passa, deixou de haver, isto é uma guerra em todo o país, não apenas na linha da frente".
Já o Presidente ucraniano aproveitou para acusar os russos de "atacarem onde querem, sem darem importância ao facto de serem alvos militares ou civis, se são entidades ucranianas ou convidados internacionais".
Foi um aviso, apenas
Mas nem um nem outro referiu o facto de que, com a precisão reconhecida a este míssil russo, o alvo só não foram eles próprios porque a decisão não foi essa, foi, isso sim, mesmo que em Moscovo se diga que apenas alvejavam o armazém de drones e a concentração de tropas, um sério aviso através de uma diplomacia... explosiva.
Mas sabe-se já, como notaram vários analistas de proximidade desta guerra, como a equipa do Military Summary Channel, que dezenas de militares foram mortos ou feridos, incluindo oficiais ocidentais que apoiavam as unidades ucranianas, porque, após a explosão do Iskander, foram observados dezenas de voos de helicópteros e pequenos aviões entre Odessa e a vizinha Roménia.
Já em Moscovo, o ministro da Defesa apenas confirmou que o alvo deste ataque foi um armazém no Porto de Odessa onde estava uma quantidade substancial de drones marítimos e equipas especializadas na preparação de drones usados pelas forças ucranianas em combate".
A resposta russa ao abate do navio-patrulha russo num porto do Mar Negro foi o último sucesso conseguido pela Ucrânia em combate e, segundo analistas pró-russos, foi conseguido através do uso em simultâneo de dezenas de drones - existem vídeos com as imagens -, com apoio da intelligentsia da NATO, e com o envolvimento directo de uma unidade de forças especiais do Reino Unido.
A presença de forças especiais britânicas no território da guerra na Ucrânia foi confirmada por generais de topo alemães, como ficou demonstrado numa conversa gravada e divulgada pelos media russos, que Berlin confirmou a autenticidade, embora isso já fosse assumido como facto há muito em Moscovo.
Tal como franceses, polacos e norte-americanos, especialmente no apoio ao uso de equipamento militar ocidental mais sofisticado, como as baterias antiaéreas Patriot, os sistemas de lançamento múltiplo de foguetes como os HIMARS ou os misseis StormShadow britânicos e os SCALP franceses.
Todavia, ao longo dos mais de 1.000 kms de linha da frente, o cenário é outro e as forças ucranianas estão claramente à beira do colapso, com as forças de Moscovo donas e senhoras da iniciativa militar, com avanços diários curtos mas consolidados.
As chefias militares e políticas em Kiev, no que é assumido ao mais alto nível, pelo Presidente Zelensky, não conseguem fazer chegar à frente o número mínimo de munições e peças de artilharia para travar os russos e a substituição de tropas, devido a morte ou ferimentos, é uma miragem.
O aperto na frente
Já nesta semana, um documento oficial divulgado pelo Washington Post mostrava que as Forças Armadas da Ucrânia perderam o rasto a 700 mil mobilizados, que não sabem se estão mortos, foram feitos prisioneiros ou desertaram, tendo Zelensky exigido uma investigação.
E o ataque em Odessa com o Iskander M tem todo este contexto em pano de fundo, porque os russos há muito que acusam os países da NATO de estarem a desenvolver uma guerra indirecta com a Rússia.
Mais, o Kremlin está a deixar ainda um aviso para o que se espera que suceda em breve, que é, como avisam, a entrada de tropas na Ucrânia, com o confirmar do colapso das capacidades militares ucranianas, como o disse de forma clara o Presidente francês, que é o novo falcão de guerra europeu, e os exercícios militares de grande dimensão que decorrem nas fronteiras da Rússia e da Bielorrússia.
Porém, tudo pode mudar de um momento para o outro, embora os sinais evidenciem o contrário, como a saída de cena da mais férrea governante norte-americana anti-Rússia, e defensora da guerra na Ucrânia, Victoria Nuland, se em Washington for retomado o apoio massivo a Kiev.
Uma oportunidade para se perceber se os Estados Unidos estão, como parece, a fazer um paulatino mas consolidado fade out desta guerra ou vão reatar o fluxo caudaloso de armas e dinheiro para Kiev, é o discurso à Nação que está agendado para o Congresso pelo Presidente Joe Biden.
Segundo as antecipações que estão a ser feitas pelos media norte-americanos, é já certo que o tema da guerra na Ucrânia faz parte do discurso de Biden, mas o foco principal vão ser as eleições Presidenciais de Novembro, onde, como já está confirmado, vai defrontar de novo Donald Trump.
E com as sondagens a darem um avanço enorme ao antigo Presidente, Joe Biden deverá ter em conta que o conflito no leste europeu já não é bem visto pelo eleitorado norte-americano, e que os danos que este pode causar são relevantes a ponto de poder dar sinais de confirmação da retirada estratégica antes do colapso do aliado... ucraniano.