O canal de televisão internacional, serviço em inglês, do Qatar, avança, nesta investigação conjunta com a Fundação PorCausa, que Macky Sall está a recorrer à sua mais bem preparada força policial, para esmagar os protestos que desde 2021 mantém as ruas do Senegal a arder.
Esta força policial de elite, treinada por franceses, italianos, espanhóis e portugueses, com financiamento de Bruxelas, denominada Grupo de Intervenção, Acção e Vigilância Rápida (GAR-SI Sahel), no âmbito da luta contra a imigração ilegal, foi usada â margem da sua finalidade.
Com largas centenas de elementos treinados entre 2016 e 2023 ao abrigo de um programa específico da União Europeia, o GAR-SI Sahel foi, desde 2021 colocado nas ruas de Dacar para reprimir com violência os protestos que emergiram após o país perceber as intenções de Sall.
O ainda Presidente do Senegal começou em 2021 a experimentar o terreno para tentar uma alteração constitucional que lhe permitisse candidatar-se a um 3º mandato, quando a Constituição só permite dois.
Liderados por Ousmane Sonko, da oposição, os manifestantes encheram de imediato as ruas de Dacar, mas também de Ziguinchor, no sul, e Saint Louis, opondo-se ao "golpe" de Macky Sall, tendo este apenas desistido desse intento já em meados de 2023.
Mas Sall tirou da cartola outra possibilidade para se manter no poder (ver links em baixo nesta página), anunciado, já no final de 2023, que iria adiar as eleições, marcadas para 25 de Fevereiro, para Dezembro, alegando o caos gerado entre as candidaturas, depois de duas delas, incluindo a de Ousmane Sonko, terem sido desqualificadas pelo Tribunal Superior.
Rapidamente os protestos voltaram às ruas e Sall foi obrigado, mais uma vez, a retroceder, estando actualmente a tentar sair airosamente da falhada tentativa de golpe com reuniões do criado conselho nacional para a reconciliação, anunciado que vai deixar o poder a 02 de Abril.
Esta é a data limite do seu mandato constitucional mas menos claro é quando as eleições poderão ter lugar, porque a data previamente anunciada, 15 de Dezembro, deixaria um vácuo constitucional insustentável.
A possibilidade que para já colhe mais apoio é no início de Junho, mas isso mesmo está actualmente a ser discutido entre os partidos senegaleses com a atenção da sociedade civil focada no que por estes for decidido.
Para já ainda não se sabe o impacto desta investigação da Al Jazeera e da Fundação PorCausa, mas sabe-se que não será aveludada porque se trata de uma unidade policial com um lastro de uso e recurso à violência incorporado na sua génese, até porque o GAR-SI Sahel foi criado à imagem das unidades espanholas que durante décadas combateram o terrorismo da ETA, o grupo radical do País Basco.
Para já, em Espanha, o ministério do Interior negou que este grupo de matriz espanhola tenha tido um papel violento na repressão das manifestações no Senegal.
O Governo de Dacar recusou comentar este assunto aos jornalistas da Al Jazeera.