Angola foi obrigada, como alguns de nós nos lembramos, a percorrer um caminho que, pela sua posição geoestratégica e em resultado das opções que fizemos pós-independência, não foi apenas difícil, como nos custou um preço elevadíssimo a todos os níveis.

Tendo assistido à destruição de parte considerável do país, por acção do governo racista sul-africano e dos seus apoiantes internos e externos de então, por termos sido o centro de todas as acções que haveriam de levar à independência da Namíbia, à entrega legítima do Zimbabwe à maioria negra e ao fim do apartheid, até hoje esperamos um reconhecimento mundial que nunca nos foi dado. Nem sequer, no mínimo, as moralmente obrigatórias compensações financeiras por parte dos Estados que quase fizeram implodir a nossa terra. A verdade é que os anos passaram, as opções políticas do Estado angolano foram-se alterando, sem dúvida e numa primeira fase de uma forma inteligente e calculista, ainda antes das grandes transformações mundiais que haveriam de levar à queda do muro de Berlim e ao derrube dos regimes autoproclamados de democracias populares e/ou socialistas da Europa do Leste.

Depois, tal como Abril, Novembro levou-nos por outros caminhos, aprofundando, ao contrário do que defendiam os pais-fundadores da nossa luta, as contradições entre classes sociais, com a escolha compulsiva e doentia de um capitalismo "rafeiro", desavergonhado, sem regras nem normas, que foi adiando, nas duas últimas décadas, qualquer projecto de desenvolvimento nacional sério, programado, estudado, pensando no que deveríamos (poderíamos) ser a médio e longo prazos. O que implicou, em última análise, a que tenhamos chegado ao ponto a que chegámos hoje, em que vai ser obrigatório um longo caminho até recuperar o país e recomeçar em praticamente todas as áreas vitais para a saída da nossa condição de país periférico e subdesenvolvido.

Serão precisos vários anos - não nos iludamos - para recuperar o tempo perdido e apostar na recuperação económica nas suas múltiplas vertentes, pôr um ponto final na paranóia que foi achar-se que o petróleo era a solução de tudo e para tudo e, em simultâneo, apostar de forma séria, competente e sabedora na Educação, no Ensino, na Saúde ao mesmo tempo que na Agricultura, na Agro-Indústria, nas Pescas e com um grande rigor nas contas públicas..

Em suma, nem Abril nem Novembro foram cumpridos. Como lembrava o Presidente Agostinho Neto, nem sempre o sonho, quando se converte em realidade, corresponde ao que ansiávamos. Mas, mais de 40 anos passados, é hora dos poderes políticos e partidários olharem para dentro, para si próprios, admitirem que falharam em quase toda a linha e tentarem - com a integração de cidadãos sérios, patriotas, e que quebrem o ciclo de aproveitamento permanente de quem faz carreira política para resolver a sua vidinha e a dos seus - voltar a pensar no que é essencial, no que deve ser o fulcro da sua acção: o desenvolvimento integrado, a partir de planos concretos e passíveis de serem postos em prática em todos os grandes domínios da vida económica e social nacional. Até lá, tudo continuará a ser um sonho, ainda e sempre uma utopia, enquanto as gerações vão passando, letárgicas, abúlicas, sem competências e, pior que isso, sem acreditarem em si próprias e em quem nos dirige. Só assim cumpriremos, mais cedo que tarde, Novembro. Que também é Abril.