E quem não conhece o "Valentim" que, apesar do seu contínuo estado de embriaguez, tem sempre um conselho a dar aos casais infelizes? É do Cubal, fugiu da guerra e nunca mais se encontrou. Outro maluco que jamais esquecerei, de ar cordial e um impressionante domínio linguístico. É insólito, porém real, o "poliglota" fala francês, italiano e vários dialectos (cheios de códigos, imperceptíveis até para os falantes). Este homem foi ou é (acho que nunca se deixa de ser, independentemente das patologias diagnosticadas) genial. O que nos diferencia destes homens é que eles vestiram a fatiota de malucos e nós de cidadãos comuns. Mas atenção, os malucos, quando surtam, são mesmo malucos!
Dizem por aí que o cosmopolitismo enriquece o conhecimento. Cá para mim, por onde estes homens passaram não há conhecimento que valha. Precisamos com urgência de investir nos «PSICÓLOGOS DA PAZ», ao invés de hospícios ou manicómios. Mas deixemos esta temática de traumas para outra crónica...
Entretanto, na Casa dos Registos, uma fila desconcertante por tempo indeterminado com o acréscimo do SEM SISTEMA (uma expressão aparentemente inocente). No dicionário, a explicação é dissonante - sistema: reunião de princípios ligados entre si, de maneira que formem uma só doutrina.-, na linguagem terra-a-terra mwangolê quer dizer: "volte mais tarde", "aguarde, yá", "espere só", "tá rijo!".
E não é que o maluco aparece no guichê do bilhete de identidade e quer o seu assunto resolvido? É de casamento que se trata. O homem, que não é totalmente maluco, diz em voz alta que o seu casamento vai ser à moda antiga, não será como esses casamentos relâmpagos, casou-se, seis meses depois se divorcia. Estava no lugar certo à hora certa com a vontade certa, só queria um Bilhete de Identidade com um nome que ele próprio desconhece, para se casar à moda antiga com alguém por sinal também desconhecido ou mesmo inexistente. O maluco pode ser maluco, mas sabe que sem B.I. não é cidadão, é só maluco. O lema é "cidadania e inclusão". O maluco também quer estar incluído nesta nova Angola. Queremos todos! A minha companheira da "sentada" na sala de espera falava com entusiasmo desta nova era: "O nosso presidente vai desburocratizar Angola".
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