O candidato do MPLA à Presidência da República, João Lourenço, fez no Cuito, Bié, uma das primeiras referências directas ao conflito armado, acusando a UNITA de ter sido responsável pela destruição da capacidade industrial do país.
João Lourenço fez esta acusação no seu discurso de campanha que realizou na cidade do Cuito, na terça-feira, aproveitando para pedir, sem nomear, à UNITA para "dizer a verdade toda" quando acusa o MPLA de não conseguir garantir emprego para a juventude.
A "verdade toda", para o cabeça de lista do MPLA, que discursou perante dezenas de milhares de pessoas, é que o país ainda não conseguiu corresponder aos anseios de emprego da juventude angolana porque as forças militares da UNITA foram responsáveis pela destruição do tecido industrial nacional.
E, para isso, deu o exemplo da cidade do Cuito, onde teve lugar uma das mais intensas batalhas das três décadas de guerra, cuja capacidade industrial, disse Lourenço, foi destruída pelas forças do "Galo Negro", as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), embora sem referir nomes.
Na resposta a esta acusação de João Lourenço, o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, disse ao Novo Jornal Online que a acusação do candidato do MPLA é "uma provocação" a que não vale a pena dar resposta, afirmando que se o MPLA "quiser viajar para o passado, terá de ir sozinho", porque o seu partido "só está interessado em criar respostas que a democracia angolana exige".
Mas Alcides Sakala não deixou de responder directamente a João Lourenço, afirmando que este "foi muito infeliz" ao recorrer ao passado de guerra no país quando "Angola deve estar focada no presente e no futuro", como seja o seu desenvolvimento e na resposta às exigências de um Estado de Direito como o combate à corrupção ou garantir o cumprimento dos Direitos Humanos.
O porta-voz da UNITA afirmou ainda que é um erro histórico afirmar que foi a UNITA que destruiu o tecido industrial do país "porque quem detinha a maior capacidade de destruição eram claramente as forças do MPLA", justificando isso com o recurso aos aviões de guerra Mig e Sukoy, com os quais "bombardearam as cidades onde a UNITA estava", utilizando "bombas de grande capacidade destrutiva".
Sakala acusou ainda o candidato do MPLA de "estar claramente a procurar esconder, com estas acusações alicerçadas no passado de guerra, o fracasso dos 42 anos de governação" do seu partido.
Recorde-se que as acusações de João Lourenço resultaram de, no seu discurso, ter apostado na questão da necessidade de revitalização do sector industrial angolano como ferramenta para a criação de empregos.
Nesse âmbito, lembrou, entre outros exemplos, as barragens construídas nos últimos anos, com as quais vai ser possível "alavancar a economia do país" e a sua industrialização.
Foi ainda neste discurso que João Lourenço defendeu a construção de uma nova cidade, propondo que a actual, Cuito, passe a designar-se "cidade do perdão e da tolerância", em memória dos cidadãos que tombaram na guerra pós-eleitoral de 1992.
Estas são as 4ªs eleições por voto directo e universal desde que Angola optou pelo multipartidarismo em 1991.
As eleições gerais de 23 de Agosto contam com seis forças políticas a disputar os 220 lugares no Parlamento e ainda a eleição do Presidente da República e do Vice-presidente, que são, respectivamente, o primeiro e o segundo nome das listas apresentadas pelo círculo nacional.
Vão estar na disputa pelos votos dos 9,3 milhões de eleitores, conforme o sorteio que ditou a disposição no boletim de voto, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que propõe Isaías Samakuva para Presidente da República, a Aliança Patriótica Nacional (APN), cujo cabeça de lista é Quintino Moreira, o Partido da Renovação Social, cuja aposta para a Presidência é Benedito Daniel, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que tem João Lourenço para substituir José Eduardo dos Santos na Cidade Alta, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com Lucas Ngonda a liderar a lista; e a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), que apresenta Abel Chivukuvuku para Chefe de Estado.
O círculo nacional elege 130 deputados e os círculos das 18 províncias elegem 90, cinco deputados por cada uma delas, contando a Comissão Nacional Eleitoral com 12 512 Assembleias de Voto reunindo um total de 25 873 Mesas de Voto.