Foi Zelenksy quem "seleccionou pessoalmente" os 16 discursos e o livro contém uma introdução escrita também pelo Presidente ucraniano, "na qual reflecte sobre o que tem aprendido sobre si próprio e a Ucrânia desde a invasão do país" pela Rússia a 24 de Fevereiro de 2022.
"Desde a minha tomada de posse em 2019 já proferi mais de mil discursos pelo mundo. Escolhi os 16 discursos deste livro porque, mais do que quaisquer outros, ajudá-lo-ão a compreender-nos: as nossas aspirações, os nossos princípios e os nossos valores", diz o Presidente ucraniano, citado pelo comunicado de uma das editoras que publicarão este livro.
"Acima de tudo, este livro ajudá-lo-á a ouvir a mensagem que queremos dirigir ao mundo: a de que somos um povo livre e independente, e de que lutaremos até o último soldado russo ter deixado o nosso território", declara Zelensky, que antes de ser Presidente da Ucrânia foi actor e produtor de cinema e espectáculos.
O livro inclui um prefácio do jornalista russo-britânico Arkady Ostrovsky, que foi muitos anos correspondente em Moscovo e é actualmente responsável pelas secções da Rússia e da Europa de Leste na revista The Economist, a quem cabe explicar o contexto dos discursos na guerra na Ucrânia.
O livro, cujas receitas reverterão para a United24, que recolhe doações para a Ucrânia e foi criada por Zelensky, será publicado este ano nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Portugal e Espanha e chegará, já em 2023, a países como a Dinamarca, Países Baixos, Noruega, Polónia, República Checa e Finlândia.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.
O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro, tendo acrescido a esta reivindicação as províncias de Kherson e Zaporijia, depois da realização de referendos que a comunidade internacional, quase em uníssono, não reconhece.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.