O porta-voz do Ministérios dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbei, lembrou que, além do envio massivo de armas para a Ucrânia, o Reino Unido e os seus parceiros ocidentais foram responsáveis pelo colapso das negociações directas entre Moscovo e Kiev para acabar com o conflito pouco depois da invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022.
Wang Wenbei refere-se ao momento em que o então primeiro-ministro britânico Boris Jonhson irrompeu por Kiev adentro para convencer o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a abandonar as conversações de paz com Moscovo.
Conversações essas que, escassas duas semanas depois do avanço das forças russas pela fronteira ucraniana, já tinham um rascunho de acordo de paz que estava para ser assinado na Turquia, sob intermediação turca e israelita.
Para convencer Zelensky a continuar a guerra até à derrota total da Rússia, como referiam então o Reino Unido, os EUA e a União Europeia, Boris Johnson prometeu a Kiev todo o dinheiro e as armas que fossem necessárias e durante o tempo que fosse preciso, abrindo ainda a porta à entrada da Ucrânia na NATO e no bloco europeu.
Com esta referência ao dinamitar do acordo entre Kiev e Moscovo que estava quase concluindo antes da entrada em cena de Boris Johnson, Wang Wenbei está a sublinhar que foi por acção britânica e não chinesa que este conflito se manteve ao longo dos últimos quase dois anos e meio.
Porém, para os aliados ocidentais, como o secretário da Defesa britânico, Grant Shapps, refere, citado pelos media internacionais, o que mais importa não é a questão da guerra estar a decorrer, é o facto de a China estar a apoiar a Rússia com armamento, alegando que isso foi agora conformado pela intelligentsia britânica e norte-americana.
O Reino Unido é um dos mais férreos defensores do apoio à Ucrânia para "derrotar a Rússia totalmente no campo de batalha", tendo, recentemente, dado um passo que foi fundamental para a escalada "nuclear" do conflito.
O responsável pela diplomacia de Londres, David Cameron defendeu há semanas que os ucranianos podem e devem usar os misseis de longo alcance fornecidos pelo ocidente para atacar alvos na profundidade de todo o território russo.
Foi nesse contexto que o Kremlin ordenou a realização de exercícios com os seus sistemas de armas nucleares tácticas no sul da Rússia, nas proximidades da NATO, numa relativamente inesperada escalada que, por exemplo, o analista militar major-general Agostinho Costa entende que é efectivamente uma preparação para emprego deste armamento e não um bluff de Vladimir Putin.
Porém, o que Grant alega como fontes das suas certezas, as secretas dos EUA, é posto em causa pela Administração Biden, porque o conselheiro para a segurança nacional norte-americano, Jake Sullivan, já, por diversas vezes, disse não existirem evidências do apoio chinês em armamento a Moscovo.
E também o Governo chinês tem repetido que não está a enviar ajuda militar letal para a Rússia, apesar da parceria estratégica "sólida como uma rocha" que existe entre os dois países, nem pensa fazê-lo.
Todavia, a generalidade dos analistas admitem que dificilmente a China e a Rússia poderão convencer o mundo de que Pequim não está a fazer chegar a Moscovo elementos fundamentais para a indústria militar da Federação, nomeadamente na área da electrónica, como é, por exemplo, o caso dos chips, essenciais para os sistemas de orientação dos seus misseis.
E é igualmente verdade que a China, mas também a Índia, foram fundamentais para que a Rússia conseguisse contornar com sucesso as gigantescas sanções ocidentais, através de uma crescente programa de trocas comerciais, que permitiu, entre outras frentes, não apenas manter como fazer mesmo crescer os seus rendimentos no sector exportador energético.
Na recente visita de Putin a Pequim, ficou claro a intenção dos dois países manterem o ritmo de aproximação estratégica e de aumentar o volume de trocas comerciais que em 2023 atingiu o valor recorde de 240 mil milhões USD, ao mesmo tempo que estão a retirar o dólar norte-americano da equação.
Alias, Pequim e Moscovo estão há já vários anos a unir esforços para derrubar a actual ordem mundial baseada nas regras do ocidente erguidas após a II Guerra Mundial para erguer uma outra que dizem querer que esteja alicerçada na cooperação baseada em princípios de igualdade e justiça.